Uma trombada na indústria

O Estado de S. Paulo

 

Um tombo de 10,9% na produção industrial, em maio, foi um dos grandes danos impostos ao País pela paralisação do transporte rodoviário. Foi a maior queda mensal desde dezembro de 2008, quando se contabilizou uma perda de 11,2%. O volume produzido caiu de abril para maio em 24 dos 26 grupos de atividades cobertos pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mesmo número de ramos acusou redução de atividade – 6,6%, no total – em relação a maio do ano passado. Até abril, tinha havido uma série de 12 altas na comparação entre meses de anos consecutivos. Maio de 2018 teve um dia útil a menos que maio de 2017, mas isso em nada diminui a façanha de quem trancou as estradas. Como prêmio, o governo ofereceu aos bloqueadores de rodovias uma tabela de fretes por meio de medida provisória (MP). O texto, em tramitação no Congresso, estabelece um cartel com as bênçãos do poder público. Convertida em lei, essa MP já será, sem contar os efeitos de sua aplicação nos contratos, mais uma perda para o País.

 

A produção industrial e o comércio podem ter melhorado a partir de junho, com a normalização das entregas de matérias-primas e bens intermediários e do transporte de produtos acabados. Mas seria um erro considerar passageiros os danos de maio, como se os efeitos da crise acabassem com a liberação das estradas. Parte importante da produção de maio deveria destinar-se a outras etapas do setor produtivo.

 

Esse abastecimento foi severamente prejudicado. Em maio, a fabricação de bens intermediários foi 5,2% menor, em volume, que em abril. Esses insumos deveriam ser usados na produção de bens finais. Qual terá sido o efeito do atraso no fornecimento desses itens? De abril para maio caiu 18,3% o volume produzido de máquinas e equipamentos, ou bens de capital. Parte dessa produção seria exportada e outra parcela seria comprada por empresas brasileiras para ampliar e modernizar seu potencial produtivo e aumentar sua competitividade.

 

Os números negativos de maio, portanto, contam apenas parte de uma história ainda mal conhecida e com certeza inacabada. O consumo também foi obviamente afetado. O primeiro efeito foi o desabastecimento de vários itens e seu previsível impacto foi a alta de preços. Esses aumentos devem ter sido, na maior parte, passageiros, mas, de toda forma, o consumidor pagou uma parte significativa da conta. Foi um pagamento duplo, porque o encarecimento dos produtos, mesmo temporário, foi o complemento de problemas na busca de bens essenciais.

 

A produção industrial de bens de consumo não duráveis e semiduráveis caiu 12,2% de abril para maio, uma queda também recorde na série mensal iniciada em 2002. A produção de alimentos industrializados diminuiu 17,1% de um mês para outro. A de itens farmacêuticos e farmoquímicos caiu 11,7%. A de roupas e acessórios encolheu 15,4%. Na categoria de bens duráveis, a maior perda ocorreu na indústria de veículos, carrocerias e reboques, com produção 18,1% menor que a de abril e 12,8% inferior à de maio de 2017. Também na comparação com os números de maio do ano passado o recuo da indústria de alimentos teve grande peso, com recuo de 14,3% no total produzido.

 

Com o desastre de maio, a produção acumulada no ano ainda foi 2% maior que de igual período de 2017. Em 12 meses o crescimento ficou em 3%. O estrago fica mais perceptível – embora a visão seja ainda parcial – quando se examinam os dados do confronto com igual mês do ano anterior. O recuo de 6,6% em maio foi precedido de quatro meses de firme crescimento na comparação interanual: 5,7% em janeiro, 2,8% em fevereiro, 1,3% em março e 8,9% em abril.

 

Apesar da sequência positiva dos números da produção até abril, o desemprego continuou elevado, principalmente por causa das muitas incertezas políticas. Ampliar a oferta de vagas será um dos efeitos mais importantes de um crescimento econômico mais seguro e mais acelerado. Os danos diretos e indiretos da crise no transporte poderão tornar mais distante esse objetivo. (O Estado de S. Paulo)