O Estado de S. Paulo
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 milhão de pessoas morrem anualmente em acidentes de carro. Só no Brasil, são 47 mil óbitos. No entanto, os veículos autônomos, que dirigem sozinhos, podem combater ajudar a reduzir muito esse número antes do que imaginamos.
Aqui no Vale do Silício, onde eu moro, os carros sem motorista são comuns. Fazem parte do cotidiano. Mais de 50 empresas têm autorização para testá-los nas ruas da Califórnia. Sejam gigantes da tecnologia, como Apple, Google e Samsung. Grandes montadoras, como Ford, GM e Volkswagen. Ou ainda a Tesla, que fabrica modelos elétricos e os vende sem concessionárias. Já andei duas vezes no carro da Udacity, universidade que forma profissionais para esse segmento. Ainda que as versões atuais exijam um operador humano no banco do motorista, para assumir o controle em caso de problemas, é incrível observar como o futurismo de anos atrás virou realidade.
À medida que isso avançar, várias indústrias serão afetadas. Montadoras precisarão reescrever o seu negócio, visto que o custo do transporte urbano irá despencar: usar um carro autônomo poderá ser até dez vezes mais barato do que comprar um automóvel. Além disso, uma vez que dirigir será desnecessário, autoescolas se tornarão inúteis. Segundo a Universidade de Michigan, a emissão de novas carteiras de motorista cai sem parar. Em 1983, 87% dos americanos de 19 anos tinham habilitação. Em 2014, só 69%. Para muitos, o último detentor de uma CNH já nasceu.
Além disso, estacionamentos serão afetados, pois esses veículos não precisam parar. A indústria das multas também, pois eles não cometem infrações. Idem para seguros e mecânicos, pois acidentes serão raros. O próprio modelo atual dos aplicativos de compartilhamento de corrida, que é baseado no motorista, poderá se tornar obsoleto, assim como serviços de delivery e transportadoras. Em 2016, a Budweiser realizou a primeira entrega de cervejas do mundo utilizando um caminhão autônomo. Foram 50 mil latinhas que cruzaram 200 quilômetros pelas estradas do Colorado. Por fim, a geografia das metrópoles mudará radicalmente. Los Angeles acaba de contratar um profissional que preparará a cidade para essas transformações.
No entanto, há desafios enormes, como potenciais oligopólios formados pelas empresas de transporte como serviço e milhões de desempregados. Mas imagine o seguinte: como seria o espaço aéreo, que hoje funciona com voos guiados autonomamente a maior parte do tempo, se os aviões fossem desprovidos dessa tecnologia e todos os pilotos pudessem acelerar, pegar um atalho ou até “ultrapassar em local proibido”? Haveria mais ou menos acidentes? (O Estado de S. Paulo/Maurício Benvenutti, sócio da plataforma para Startups Startse)