Paralisações já afetam produção em fábricas

O Estado de S. Paulo

 

O protesto dos caminhoneiros contra os aumentos no preço do óleo diesel, que completou ontem o segundo dia, começou a ter reflexos mais fortes na economia. Sem componentes, fabricantes de automóveis anunciaram paralisação da produção em algumas fábricas. O acesso aos portos está prejudicado, afetando exportações e importações. Também já há problemas para o escoamento da safra de soja.

 

Ontem, segundo a Polícia Rodoviária Federal, a paralisação atingiu 23 Estados e o Distrito Federal, mais que no primeiro dia. O Estado com maior número de interdições em rodovias federais era Minas Gerais, com 35, seguido do Rio Grande do Sul, com 33. O número de Estados afetados é o mesmo anunciado pela Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), que coordena os protestos.

 

A falta de peças entregues por caminhoneiros levou várias montadoras a suspenderem a produção. Ontem, ficaram paradas as fábricas da Ford em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da General Motors em Gravataí (RS). Na unidade da GM de São Caetano do Sul (SP), o segundo turno de trabalho, que começaria às 16 horas, foi suspenso, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos local. O mesmo ocorreu nas linhas de produção da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP) no segundo e no terceiro turnos (tarde e noite).

 

Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, “há um grande risco de ter paralisação generalizada nas montadoras se a greve prosseguir”.

 

Quem também anunciou paralisação de fábricas foi a Cooperativa Central Aurora Alimentos. Segundo a empresa, sem os insumos necessários ao funcionamento das unidades, sete indústrias de aves e oito de suínos parariam a produção. Os cálculos divulgados pela Aurora eram de perdas de R$ 50 milhões em toda a cadeia produtiva ligada à companhia.

 

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), havia outras fábricas paradas, mas não citou os nomes das empresas. E, de acordo com o vice-presidente de Mercados da associação, se o movimento continuar, como prometeram ontem os caminhoneiros, mais unidades devem parar.

 

No Aeroporto de Brasília, a concessionária Inframerica informou que o combustível para aeronaves estava contingenciado ontem, porque a frota que traria a querosene de aviação (QAV) estava retida em uma manifestação no entorno do Distrito Federal.

 

Em Mato Grosso, a paralisação dos caminhoneiros afetou principalmente os produtores de soja. Antonio Galvan, presidente da Aprosoja-MT, diz que o escoamento da safra, que já é difícil por causa do estado precário da BR-163, piorou muito por causa do protesto dos caminhoneiros.

 

Mesmo assim, ele disse que o setor apoia o protesto, por ser contra a política de reajustes do diesel adotada pela Petrobrás. Em vídeo publicado no YouTube, Galvan convocou os produtores a levarem tratores para as rodovias para engrossar o protesto, de forma pacífica. (O Estado de S. Paulo/Gabriel Roca, Cleide Silva, Márcia de Chiara, Nayara Figueiredo e Eduardo Rodrigues)