Greve por salários para produção na Mercedes

O Estado de S. Paulo

 

O crescimento por 18 meses seguidos da produção de veículos, confirmando a retomada do setor após quatro anos de crise, é um argumento para novas greves nas montadoras. Ontem, quase a totalidade dos 8 mil trabalhadores da fábrica da Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo (SP) suspendeu as atividades por reajuste salarial.

 

No início do mês, 6 mil funcionário da Renault, no Paraná, deixaram de entrar na fábrica por cinco dias até conseguirem aumentar a oferta de pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) feita pelo grupo. Na crise, além de promover demissões, muitas montadoras negociaram acordos coletivos que congelaram salários e suspenderam a PLR.

 

A greve na Mercedes, maior fabricante de caminhões e ônibus do País, é por tempo indeterminado, mas pode ser revista em assembleia hoje, caso a empresa apresente nova proposta para o dissídio coletivo.

 

Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Aroaldo Oliveira, a paralisação foi motivada pelo fato de a direção da Mercedes querer pagar o reajuste deste ano em forma de bônus, sem incorporá-lo ao salário.

 

A empresa quer ainda, segundo o sindicato, acabar com a estabilidade de acidentados e não quer assinar cláusula de salvaguarda prevendo negociação sindical antes de adotar medidas previstas na reforma trabalhista. Também pretende demitir cerca de 340 funcionários dos setor administrativo. “Não podemos aceitar demissões num momento de retomada da produção”, diz Oliveira.

 

A Mercedes confirmou que todos os setores da fábrica ficaram parados ontem, mas não quis comentar sobre as reivindicações e a greve, “por estar em processo de negociação”.

 

Neste ano, a montadora contratou 680 trabalhadores e planeja reabrir o segundo turno de trabalho no segundo semestre. Antes da crise, a fábrica operava em três turnos e, desde 2015, mantém apenas uma turma na produção. Nos últimos quatro anos foram fechadas 5 mil vagas, boa parte por meio de programas de voluntariado (PDV).

 

Lucro

 

Na Renault, onde são produzidos automóveis e comerciais leves, a paralisação entre os dias 2 e 6 foi um protesto contra a proposta de pagamento de PLR de R$ 24.860. O retorno ao trabalho ocorreu após a empresa aumentar o valor para R$ 25,5 mil. Nos quatro meses do ano, a produção total de automóveis e comerciais leves aumentou 19,3% em relação a igual período de 2017, somando 922,1 mil unidades. Para caminhões, a alta foi de 55% (33,5 mil unidades) e, para ônibus, de 81% (10,2 mil unidades).

 

Mesmo com o crescimento, as empresas de caminhões operam com ociosidade de cerca de 70%, e a de automóveis e comerciais leves, de quase 40%, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)