DCI
O setor automotivo demonstra sinais de que deve crescer de forma consistente neste ano, na contramão dos demais segmentos da indústria. No entanto, o forte aumento dos juros na Argentina e a volatilidade do dólar no país vizinho preocupam as montadoras.
De acordo com a analista da Tendências Consultoria, Isabela Tavares, a retomada da produção e das vendas de veículos deve permanecer forte até o fim do ano por conta do maior volume de concessão de crédito e da redução do custo do dinheiro pelos bancos. “A taxa de juros de financiamento deve seguir em queda ao longo do ano. O crédito é um dos fundamentos que vem em recuperação consistente desde janeiro”, avalia a especialista.
Isabela diz que as projeções da Tendências para massa salarial este ano são de alta de 3,6% ante 2017, enquanto que a renda habitual real deve ter uma expansão de 1,2%, sustentando a força do consumo para manter os números positivos em todo o setor automotivo.
Por outro lado, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antônio Megale, lamenta a redução dos juros nos bancos privados de forma mais lenta do que se esperava. “A inadimplência está baixa, porém os juros ainda estão um pouco acima dos 15%. Além disso, de cada 10 pedidos de financiamento, cinco ou seis são aceitos. Os bancos estão aumentando o crédito, mas em um ritmo bem devagar.”
Sobre as preocupações com a Argentina, Megale conta que o aumento dos juros promovido pelo banco central daquele país na semana passada, de 27,5% para 40%, pode acabar reduzindo as exportações brasileiras. A Argentina respondeu por 75% dos embarques de veículos produzidos no Brasil de janeiro a abril.
Apesar disso, Megale afirma que não será necessário revisar as projeções da Anfavea acerca das exportações neste ano, visto que o impacto dessa política monetária ainda não está claro. “Estávamos conservadores nas projeções. A expectativa da Anfavea para as vendas de veículos no mercado interno da Argentina era de 850 mil unidades em 2018. A dos argentinos é de um milhão de unidades”, diz. “Não sei se o nosso conservadorismo vai absorver completamente o impacto. Precisamos ver quanto tempo durará essa política de aperto”, comenta o dirigente. Ele explica que se houver uma redução brusca na demanda argentina por veículos brasileiros, isso será sentido daqui a pelo menos dois meses, uma vez que os contratos de exportação atuais já estão estabelecidos.
O economista da GO Associados, Luiz Fernando Castelli, destaca que o estresse no mercado argentino pode gerar consequências negativas no Brasil, em especial para a indústria, visto que 92,2% da pauta exportadora para o país vizinho foi de manufaturados no quadrimestre. Contudo, o analista aponta que ainda é cedo para calcular qual será esse impacto. “O automotivo deve seguir em expansão, mas talvez menor que dois dígitos.”
Caminhões
Outro dado relevante em abril foi a venda de caminhões, que disparou 77,7% sobre um ano antes, para 6,16 mil unidades. O vice-presidente de caminhões da Anfavea, Luiz Carlos Gomes de Moraes, atribuiu o desempenho à base fraca de comparação, à gradual retomada da economia e à renovação da frota. Ele destacou que o crescimento está mais disseminado, com avanço de leves, semipesados e pesados. (DCI/Ricardo Bonfim)