Produção industrial sobe menos que o esperado

O Estado de S. Paulo

 

Após recuo acentuado no primeiro mês do ano, a indústria brasileira voltou a decepcionar em fevereiro. A produção cresceu apenas 0,2%, segundo a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

O desempenho ficou aquém da expectativa média de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que previam expansão de 0,55%. Economistas avaliaram que o resultado confirma que a recuperação do setor e do restante da economia é lenta e gradual.

 

O ritmo de retomada da atividade econômica já tinha sinalizado fraqueza. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,56% em janeiro ante dezembro de 2017. Já o Monitor do PIB, apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), estimou queda de 0,3% no Produto Interno Bruto brasileiro no mesmo período.

 

O nível de desemprego ainda alto, o endividamento das empresas, a capacidade ociosa elevada que dispensa a necessidade de novos investimentos e as incertezas no campo político jogam contra uma recuperação mais acelerada tanto da indústria quanto da economia, enumerou o economista Alexandre Schwartsman, da Schwartsman e Associados e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. “A recuperação é robusta, no sentido de ser persistente, mas é devagar”, resumiu. “Na saída da recessão, essa recuperação é devagar mesmo.”

 

O gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Machado, confirma que o movimento de recuperação é lento. Depois de avançar 4,1% nos quatro últimos meses de 2017, a produção iniciou 2018 com menor intensidade. A indústria operava em fevereiro 15,1% abaixo do pico de produção registrado em maio de 2011. “Claro que o ritmo de produção do início de 2018 mostra perdas, mas ainda está em patamar melhor do que já esteve no final de 2016 e início de 2017”, ponderou Macedo.

 

Produção

 

Em fevereiro, a produção de bens duráveis se destacou, apresentando crescimento em todas as comparações, puxada pela queda nos juros e pela melhora na massa salarial, justificou Macedo. O avanço na confiança de empresários manteve a categoria de bens de capital em território positivo, embora a produção esteja 36,9% inferior ao ponto máximo registrado em setembro de 2013.

 

“Temos desemprego alto, renda muito restrita, crédito caro e escasso. O quadro não é favorável para uma dinâmica mais consistente. A previsão é de crescimento moderado para o ano”, avaliou o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor de Economia da PUC-SP.

 

Segundo ele, uma expansão estimada em 3% para o PIB deste ano já foi consenso entre economistas, mas a previsão deve ser ajustada para baixo, “para um crescimento mais próximo de 2,5% do que de 3%”.

 

Para Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), é importante que a retomada da indústria ganhe tração rapidamente, porque o processo eleitoral pode ser acompanhado por volatilidade em componentes como o câmbio e juros de mercado, o que poderia despertar insegurança nos agentes da economia. “É só o primeiro bimestre. Mas, para um ano em que se espera um crescimento com mais vigor, mais robustez, não começou bem”, afirmou.

 

Ante fevereiro de 2017, a indústria avançou 2,8%, com resultados positivos em 18 dos 26 setores pesquisados. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim)