A consolidação da indústria

O Estado de S. Paulo

 

A recuperação da indústria continuou em janeiro, quando o setor produziu 5,7% mais que um ano antes, segundo o balanço mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cada mês o nível de atividade fica mais distante do atoleiro da recessão. A tendência deve ter se mantido no mês passado, a julgar pela produção de veículos, 6,2% superior à de fevereiro de 2017. A montagem de cada automóvel, ônibus ou caminhão depende de um grande número de fornecedores de peças, componentes e matérias-primas, disso resultando, portanto, um poderoso efeito multiplicador.

 

Em relação a dezembro, a produção da indústria geral, medida pelo IBGE, recuou 2,4%, numa variação típica do período posterior às festas de fim de ano. Na comparação mensal, a atividade caiu em todos os grandes setores. Mas em todos a variação foi positiva quando o confronto envolveu períodos mais longos.

 

O produto industrial cresceu 2,8% nos 12 meses até janeiro. Em 2017, a expansão ficou em 2,5%, depois de três anos consecutivos de quedas – de 3% em 2014, 8,3% em 2015 e 6,4% em 2016. O declínio da indústria precedeu a recessão geral da economia brasileira, contabilizada em anos inteiros apenas em 2015 e 2016.

 

O enfraquecimento do setor, já visível no meio do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, comprovou bem cedo o fracasso da política industrial petista, baseada no protecionismo, na distribuição de favores fiscais e financeiros. Essa distribuição foi muito benéfica para alguns grupos e até para alguns setores, mas, como indicam os números, inútil para a modernização do sistema produtivo e para a promoção do crescimento econômico nacional. Além disso, alguns dos mais notórios beneficiários acabaram envolvidos em problemas com a Polícia Federal e com a Justiça.

 

Em janeiro, a produção foi maior que a de um ano antes em 20 dos 26 segmentos cobertos pela pesquisa do IBGE. A variação também foi positiva nos três grandes setores – bens de capital (+18,3%), bens intermediários (+4,2%) e bens de consumo (+6,2%). Entre os subsetores, o de bens duráveis de consumo teve o resultado mais notável, com produção 20% superior à de janeiro de 2017. Esse número é em boa parte explicável pelo desempenho da produção de veículos automotores, carrocerias e reboques, com volume produzido 27,4% maior que o de um ano antes.

 

O avanço do setor automobilístico prosseguiu em fevereiro, com fabricação de 213,4 mil unidades, número 2,1% menor que o de janeiro, mas 6,2% superior ao de igual mês do ano passado. Os números foram divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O total de empregados em fevereiro, de 130.421 trabalhadores, foi 2,5% maior que o de fevereiro de 2017. Sobre a mesma base de comparação houve aumento de 15,7% nas vendas internas. O valor das exportações de veículos e máquinas agrícolas, de US$ 1,48 bilhão, superou por 23,7% o de igual mês do ano passado.

 

Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) também aponta expansão da atividade industrial em janeiro. Não há informação direta sobre volume produzido, mas dados positivos sobre horas de trabalho na produção (aumento de 0,4% em relação ao número de janeiro e de 1,1% em relação ao de um ano antes) e sobre o uso da capacidade (variações positivas de 0,2 e 0,6 ponto porcentual naquelas comparações). Também há dados sobre rendimento médio e sobre a expansão da massa de salários. Esta foi 0,5% maior que a de dezembro e 0,3% menor, descontada a inflação, que a de janeiro de 2017.

 

De modo geral, informações de fontes diferentes apontam a firme recuperação da indústria. Um dos dados mais animadores, no balanço do IBGE, é o desempenho do setor de bens de capital (máquinas e equipamentos) com expansão de 18,3% sobre janeiro de 2017 e de 6,9% em 12 meses. É um bom indício de retomada do investimento produtivo. Mas investimento depende de confiança e, portanto, de um ambiente político favorável. Esta condição será testada seriamente nos próximos meses. (O Estado de S. Paulo)