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O futuro do transporte individual e coletivo caminha para sistemas autônomos à medida que grandes nomes do setor correm para entregar veículos que independem de motoristas humanos nos próximos três anos. Mas apesar de algumas companhias já testarem carros com nível 3 e 4 de autonomia (a escala vai até o 5), a estrada que pavimenta o cenário propício para veículos autônomos ainda é mais teórica do que prática. Os obstáculos são variados e vão desde regulamentação à infraestrutura nas cidades.
Nesta terça-feira (9), durante a CES 2018, a Ford Motors Co. endereçou algumas dessas complexidades ao anunciar que trabalha com a startup Autonomic, do Vale do Silício, para criar uma plataforma em nuvem aberta para serviços de mobilidade, a Transportation Mobile Cloud.
Em resumo, cidades e negócios poderão usar a plataforma para construir suas infraestruturas de comunicação, como sinais de trânsito e estacionamentos. Mas ao lançar um serviço de nuvem para coisas conectadas, a Ford ambiciona se tornar o centro de algo que ultrapassa a indústria automobilística e serviços de transporte como Uber, Lyft e concorrentes. Com ela, a Ford amplia seu propósito para também participar das cidades inteligentes e, claro, vê no mercado um enorme potencial para outras empresas recorrerem aos seus dados para construir aplicativos e serviços digitais.
“Soluções individuais – veículos elétricos, autônomos, serviços de compartilhamento de carona – todos eles servem para um propósito, mas eles precisam atuar em um contexto desse sistema com todos os outros componentes, falando uma linguagem comum e trabalhando juntos”, ressaltou Marcy Klevorn, vice-presidente executiva da Ford durante o keynote da montadora na CES 2018, em Las Vegas.
Com a plataforma, a Ford defende que serviços de transporte poderão comunicar em tempo real onde há pontos de congestionamento, incidentes, possíveis zonas de alagamento e com isso tornar as cidades mais fluidas. Um trânsito otimizado, segundo a Ford, resulta em melhor qualidade de vida para as pessoas e cidades. A companhia diz que espera usar sua abordagem aberta para direcionar a inovação ao ponto onde acredita que se transformará na plataforma com mais veículos conectados até o ano de 2019.
Futuro dos carros conectados depende do 5G
A Ford diz que já conta com 700 mil veículos conectados na estrada e até 2019, todos os veículos fabricados nos Estados Unidos terão a mesma personalidade digital. Para entregar uma comunicação onde carros se comunicam com tudo, a montadora tem trabalhado com a Qualcomm no desenvolvimento da tecnologia C-V2X (Cellular Vehicle to Everything), de olho no desdobramento do 5G, a quinta geração de telefonia móvel que a Qualcomm, ao lado da Intel e Ericsson, tem liderado.
Para Don Butler, diretor executivo para veículos e serviços conectados da Ford, a tecnologia C-V2X ajudará sensores e câmeras a melhor compreender o mundo ao redor deles.
“Dentro dos próximos anos, todos os pontos de luzes e intersecções poderão ter 5G ou comunicação C-V2X ? – permitindo que eles enviem sinais com o mínimo de interferência. Uma vez que essa infraestrutura já está sendo desenvolvida e construída, nós devemos tomar vantagem disso e equipar nossos veículos com tecnologia que permita eles se comunicarem tanto aqui e agora como uma década daqui em diante”, resumiu Butler.
Durante a abertura do keynote da montadora, Jim Hackett, CEO da Ford, fez um discurso onde lembra como as cidades passaram a ser construídas e adaptadas ao redor de carros para levar maior liberdade às pessoas. Entretanto, se os carros, o principal produto de montadoras, já não significam mais liberdade para os usuários de novas gerações e sim horas presas em engarrafamentos, a Ford, assim como suas competidoras, correm e investem em pesquisa e desenvolvimento para ofertar novas classes de produtos e serviços a partir do transporte, seja ele conectado e, eventualmente, autônomo em sua totalidade.
Segundo Hackett, a Ford tem trabalhado em colaboração com cidades, organizações cíveis e planejadores urbanos, além de designers e engenheiros para pensar em novas formas de transporte, tanto para pessoas quanto de produtos.
“O desafio é enorme. Nós estamos falando sobre orquestrar toda uma rede de transporte que já está distribuída no tecido de nossas cidades e vidas. Mas é uma tarefa que nós precisamos assumir, porque o nossos sistema antigo está falhando”, reconheceu o executivo.
O desafio da Ford agora será convencer toda uma indústria de que, ao reunir um volume massivo de dados de coisas conectadas em um só lugar, a montadora terá como escalar seu serviço de forma segura e, claro, vantajosa para outras concorrentes. (DigNow/Carla Matsu, jornalista participa da CES 2018 à convite da CTA)