Montadoras investem e aceleram recuperação da economia

Estado de Minas

 

A indústria automobilística é um termômetro preciso da força da economia de um país. Entre 2013 e 2016, período marcado pelo desastre econômico do governo Dilma Rousseff, o setor amargou prejuízos que resultaram no fechamento de fábricas e demissões.

 

A partir de 2017, o cenário mudou. O desânimo deu lugar a uma série de lançamentos, modernização de plantas e contratações. Melhor ainda: até 2020, as montadoras devem injetar mais de R$ 11 bilhões no Brasil, no maior ciclo de investimentos em 5 anos.

 

O que levou as empresas a abrirem o caixa? A resposta é simples: confiança. Presidente da Toyota na América Latina e Caribe, o americano Steve St. Angelo resumiu em uma frase o sentimento que domina os protagonistas do setor.

“O Brasil está de volta”, afirmou ao justificar as razões que levaram a gigante japonesa a desembolsar R$ 1 bilhão para a produção, em Sorocaba (SP), do compacto premium Yaris, com previsão de lançamento no segundo semestre de 2018. A Toyota também vai destinar R$ 600 milhões para a ampliação de sua fábrica de motores em Porto Feliz (SP).Continua depois da publicidade

 

Sim, o Brasil está de volta. Basta dar uma olhada nos indicadores financeiros para entender a extensão dos otimismo da indústria automotiva. Na economia, poucos indicadores são tão importantes para apontar caminhos como os índices de confiança. Do lado dos consumidores, ela não era tão alta desde dezembro de 2014, antes de a crise econômica estourar.

 

O otimismo é fruto principalmente da queda da inflação e dos juros, fatores que, somados, aumentam o poder de compra dos cidadãos e tornam o crédito mais barato. “A queda dos juros e a melhora dos índices de emprego aumentaram a confiança do consumidor”, diz Alarico Assumpção Júnior, presidente da Fenabrave, a federação dos distribuidores de veículos.

 

Depois de longo inverno, o crédito começou a avançar. Para as famílias, a expansão foi de 5,6% nos últimos 12 meses. “Espera-se crescimento gradual para os próximos períodos”, diz Fernando Rocha, chefe do departamento de estatísticas do Banco Central.

 

Na indústria automobilística, crédito é tudo. Na Ford, as compras financiadas respondem por 60% dos negócios. Na GM e Volks, o índice é de 55%.

 

Com o crédito em alta, mais carros são comercializados. Vendas crescentes levam as empresas a aumentar a produção. Se as fábricas produzem mais, são obrigadas a contratar. O ciclo de negócios gerados pelo setor é gigantesco. No primeiro semestre, as vendas da indústria de alumínio ao segmento automotivo subiram 15% ante igual período do ano passado. Na cadeia do aço, a alta foi de 13% de janeiro a setembro.

 

As boas notícias não param. Segundo dados do Sindipeças, o nível de utilização da capacidade instalada nas fábricas de autopeças está em torno de 70%. Há um ano, no auge da crise, a taxa era de 48%.  Projeções indicam que o setor irá empregar, até o final do ano, 164,5 mil trabalhadores, alta de 1,5% em relação a 2016.

 

Em 2018, a estimativa é que a folha de pagamento chegue a 172,8 mil funcionários.

 

Para os especialistas do setor, a reação da indústria automobilística não é uma vitória momentânea. Ela veio para ficar, especialmente se o próximo presidente estiver comprometido com a manutenção dos fundamentos econômicos, como inflação sob controle, taxas de juros baixas e equilíbrio das contas públicas. Em cenários assim, as pessoas se enchem de confiança para realizar sonhos de consumo – como a compra de um automóvel.

 

Futuro fértil

 

A onda positiva explica por que a maioria das montadores resolveu investir agora. No fundo, elas estão preparando o terreno para o futuro que, tudo indica, será  bastante fértil.

 

Há alguns dias, o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, fundador e presidente do conselho de administração da Caoa, anunciou a associação com a chinesa Chery, em um negócio que prevê investimentos de R$ 2 bilhões nos próximos anos. Caoa, do alto de sua larga experiência à frente da coreana Hyundai no Brasil, antecipou-se na parceria para aproveitar os números favoráveis que devem dominar o mercado por um bom tempo.

 

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Empresas que haviam desistido do Brasil recuperaram a confiança no país. A sul-coreana SsangYong abandonou o mercado brasileiro nos últimos dois anos, mas decidiu por uma nova investida. Ela estabeleceu uma meta ambiciosa para 2018: vender 3 mil carros e abrir 50 concessionárias em diversos estados. Sua aposta são três SUVs (Korando, Tivoli e XLV), além de uma picape média movida a diesel, a Actyon Sports.

 

As montadoras de maior tradição no país também estão atentas ao novo fôlego do mercado nacional. A renovação da linha da Volkswagen deverá consumir R$ 2,6 bilhões dos R$ 7 bilhões anunciados tempos atrás.  Segundo a empresa, 20 modelos serão lançados no Brasil até 2020 – se confirmado, o número representará um recorde. A GM prevê direcionar R$ 4,5 bilhões para a modernização das fábricas de São Caetano do Sul (SP), Joinville (SC) e Gravataí (RS). Para um setor que sofreu horrores nos últimos dois anos, não deixa de ser surpreendente uma recuperação tão veloz.

 

Reformas ajudam a destravar o setor

 

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, aponta dois fatores decisivos para o crescimento consistente do setor: as reformas trabalhista e da Previdência. “É importante que a reforma da Previdência seja aprovada ainda este ano, mesmo que não seja a proposta original, mas uma parcial”, diz o executivo. “Em 2018, haverá eleição e sabemos que será difícil que a medida seja colocada em pauta.”

 

Megale acha que a aprovação do texto terá impacto positivo principalmente na imagem externa do país. “Como dará resultados no longo prazo, a reforma passa credibilidade”, afirma. “É importante que a sociedade e o Congresso tenham consciência disso.”

 

Na análise do executivo, a reforma trabalhista é outro ponto-chave para o Brasil crescer de maneira sustentável.  Eles diz que as mudanças que entraram em vigor no último dia 11 dão mais segurança jurídica para as montadoras instaladas no país. Segundo Megale, um dos artigos do texto chama a atenção, o que prevê que os acordos coletivos tenham mais validade do que a legislação. “A indústria automotiva tem longa tradição de conversas com os sindicatos e a questão do acordado sobre o legislado nos dará maior segurança jurídica.”

 

O setor está aflito com o possível adiamento da implementação do Rota 2030, programa industrial  do governo que vai substituir o Inovar-Auto. A expectativa inicial é que parte dele entrasse em vigor ainda em 2017, mas não há certezas sobre isso. Segundo a Anfavea, a medida é fundamental para que a indústria volte a investir com garantias e que o país se converta em um protagonista no cenário internacional.

 

Entre outras mudanças, o Rota 2030 deverá contemplar a questão da eficiência energética no sistema de tributação. Atualmente, as alíquotas de impostos como o IPI estão baseadas na potência do motor. Se o Rota 2030 vingar, as vendas de carros híbridos e elétricos, que já são uma realidade na Europa e nos Estados Unidos, ganharão impulso no Brasil. (Estado de Minas/Amauri Segalla)