O Estado de S. Paulo
Depois de um mês com bons resultados de vendas, exportações, produção e até de geração de empregos, a indústria automobilística brasileira reviu ontem suas projeções e aposta em resultado melhor do que o inicialmente previsto para este ano.
Inflação controlada, queda dos juros, melhora da confiança dos consumidores e demanda externa levaram as montadoras a apostarem em crescimento de 25,2% na produção, para 2,7 milhões de veículos. Se confirmado, será o melhor desempenho do setor desde 2014, quando foram produzidos 3,1 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.
Antes, a previsão para 2017 era de crescimento de 21,5%. De janeiro até agosto a alta acumulada é de 25,5% em relação ao mesmo período do ano passado, com 1,74 milhão de unidades produzidas. Esse desempenho deve ser mantido até o fim do ano. Só em agosto saíram das fábricas 260,3 mil veículos, o melhor resultado mensal desde novembro de 2014.
Com o aumento da produção, as indústrias contrataram 1.107 funcionários no mês passado e suspenderam programas de redução de jornada de 6.084 trabalhadores. Ainda assim, há 6.320 pessoas com jornadas e salários reduzidos ou em lay-off (contratos suspensos), quase metade do que havia em julho.
“Esses números nos enchem de felicidade”, disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale. As montadoras empregam hoje 126,3 mil trabalhadores, número próximo ao de um ano atrás. Desde agosto de 2014, quando a crise econômica começou a se intensificar, as empresas cortaram 22,6 mil postos de trabalho.
As exportações atingiram 506 mil unidades, 56% mais que em 2016 e a previsão para o ano também foi revista, de alta de 35,6% para 43,3%. “Devemos chegar a 745 mil veículos, um recorde histórico”, disse Megale.
Do total vendido no exterior, 113,2 mil são de automóveis da Volkswagen, cujas vendas externas aumentaram 62% em relação ao ano passado. O Gol foi o modelo mais exportado pela marca, com 55.527 unidades.
As vendas externas totais do setor, tendo como principal cliente a Argentina, devem gerar faturamento de US$ 15,1 bilhões, 41,8% a mais que no ano passado. A previsão anterior era de alta de 30,7%.
Mercado interno
Outro dado revisto foi o de vendas no mercado interno, que devem atingir 2,2 milhões de unidades, um aumento de 7,3% e não mais de 4%, conforme projetado no início do ano. Até o mês passado foram vendidos 1,42 milhão de veículos, 5,3% a mais que em igual período de 2016.
“As vendas vinham caindo desde 2012 e um crescimento de 7% não é muito, mas já é um bom sinal”, afirmou Megale.
A nova projeção é puxada pelo segmento de automóveis e comerciais leves, que deve crescer 7,4%. Já para o mercado de caminhões e ônibus a previsão foi revista para baixo, de alta de 6,4% para 3,6%.
Na opinião de Megale está havendo “um descolamento da economia em relação à questão política”, que continua trazendo sobressaltos em relação à denúncias e escândalos.
OMC
O presidente da Anfavea aproveitou a divulgação do balanço do setor ontem para criticar a recente punição ao País da Organização Mundial do Comércio (OMC) em relação ao Programa Inovar-Auto. “Fomos condenados por apoiar o emprego no Brasil”. O programa, que termina em dezembro, estabelecia imposto extra de 30 pontos porcentuais de IPI para veículos importados fora de uma cota estabelecida.
O novo programa, o Rota 2030, entrará em vigor em janeiro e não prevê esse tipo de medida. Continuará, contudo, incentivando projetos de pesquisa e desenvolvimento e maior eficiência energética dos veículos.
Retomada
“As vendas vinham caindo desde 2012 e um crescimento de 7% não é muito, mas já é um bom sinal”, Antonio Megale, presidente da Anfavea. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)