DCI
Mesmo com o estancamento da queda, a produção industrial está longe de uma recuperação. De 93 segmentos de produção, 54 (58%) continua com viés negativo, aponta estudo do Desenvolvimento Industrial (IEDI), enviado com exclusividade ao DCI.
Segundo o economista do instituto, Rafael Cagnin, esse resultado demonstra que a indústria nacional voltou a crescer, mas que a recuperação não é uma realidade para todos os segmentos. “Há alguns sinais de alerta nestes números: o desempenho da indústria de transformação segue caindo e a melhora deste ano atinge menos da metade dos ramos”, afirmou.
O estudo do IEDI considerou a atividade na passagem do primeiro trimestre para o segundo trimestre em comparação com o mesmo período de 2016, para traçar a tendência do setor industrial.
No primeiro semestre, a indústria cresceu 1%, interrompendo uma série de resultados negativos acumulados desde o segundo trimestre de 2014, quando a queda somou quase 20%, conforme dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cagnin ressaltou que o resultado da indústria medido entre janeiro e março deste ano foi favorecido por uma base extremamente frágil na comparação anual – quando o setor passou por seu pior momento da crise econômica e política. Para ele, outro fator que vai complicar a recuperação entre julho e dezembro é a base de comparação, dessa vez mais elevada, com a segunda metade 2016, quando o setor voltou a reagir. “A indústria precisará ter um maior dinamismo para garantir um crescimento, mesmo que modesto”, afirmou. Na primeira metade deste ano alguns fatores influenciaram positivamente a indústria, mas que não devem se repetir. A injeção de recursos das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a produção de bens agrícolas, cuja demanda se concentra na primeira metade do ano, são exemplos que não devem se repetir, reforçou o economista. Por outro lado, a desaceleração da inflação, a redução dos juros – que deve melhorar as condições de novos empréstimos – e a leve melhora das taxas de desemprego vão estimular a produção.
De acordo com o IEDI, dos 93 segmentos pesquisados, apenas 37 apresentaram aceleração no segundo trimestre frente ao primeiro, enquanto dois mostraram estabilidade.
Na comparação entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo intervalo de 2016, foram 46 segmentos com queda e 47 com alta.
Do total da amostragem, 13 áreas foram classificadas como em “crise grave ou fulminante”, com destaque para segmentos de máquinas e equipamentos para uso na extração mineral e na construção; artefatos de concreto e cimento; e cosméticos, perfumaria e higiene pessoal. Na ponta oposta, com crescimento “intenso ou expressivo” estão 18 atividades, entre as quais componentes eletrônicos; tratores e máquinas agrícolas; e automóveis.
Setor Externo
A Moody’s estima crescimento industrial de 1% em 2017 e 2,2% em 2018. Para a agência de classificação de risco, as perspectivas do setor “são moderadas”, “suportadas amplamente pelas exportações e não pelo consumo doméstico”.
“Um ligeiro aumento da produção industrial em 2017 decorre principalmente das exportações de veículos, minério de ferro e petróleo. A produção de aparelhos eletrônicos, produtos têxteis e máquinas e equipamentos aumentou também nos primeiros seis meses deste ano, mas provocadas por eventos extraordinários, e não por melhoras mais amplas e duradouras”, ressalta a Moody’s em relatório divulgado ontem.
O baixo crescimento previsto até 2018 oferecerá às empresas locais apenas uma melhora modesta de indicadores, que estão em níveis muito fracos.
O diretor de macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), José Ronaldo Souza Junior, avaliou que a demanda interna tem uma retomada “lenta”, com “melhora gradual”. “Os estímulos monetários terão efeitos mais fortes na demanda apenas em 2018”, projetou.
Com base em indicadores antecedentes, o IPEA calcula que a PIM de julho, que será divulgada pelo IBGE, na próxima terça-feira (5), apontará uma retração de 0,1% ante junho, mas uma alta de 0,4% ante igual mês de 2016. (DCI/Rodrigo Petry)