Ônibus da Mercedes-Benz terão reaproveitamento de energia elétrica e vão desligar motor sozinhos

Diário do Transporte

 

A sociedade evoluiu, o mercado está mais competitivo e a mobilidade acompanha esse processo, que traz novas exigências ou reforça necessidades antigas.

 

Hoje um dos principais anseios em relação aos transportes por parte dos cidadãos é mais conforto e agilidade, além da redução dos impactos ambientais. Por outro lado, com falta de políticas que privilegiem de fato o transporte coletivo e instabilidades até mesmo nas definições das tarifas, os operadores de ônibus necessitam de redução dos custos, já que tem sido cada vez mais difícil aumentar os ganhos.

 

E a tecnologia pode ser essencial neste novo contexto.

 

A Mercedes-Benz apresenta ao mercado dois sistemas que, segundo a fabricante, podem ajudar a reduzir o consumo de combustível, os custos com manutenção e as emissões de poluentes.

 

Um destes sistemas, denominado RKM, um é módulo de recuperação de energia elétrica, que “alivia” o motor da necessidade energética dos alternadores. Com este trabalho a menos, há menor “esforço” do motor e, consequentemente, o consumo de combustível tende a cair.  A montadora estima uma economia de 2%. Modelos já estão sendo testados, como no Corredor São Mateus-Jabaquara, operado pela Metra. A comercialização deve começar em janeiro somente nos ônibus urbanos padrons, articulados e superarticulados da marca.

 

O outro sistema, chamado EIS – Engine Idle Shutdown, permite o desligamento automático do motor do ônibus após um período de inatividade.  O tempo para o desligamento pode ser programado pela empresa de ônibus, mas originalmente é configurado para ocorrer após quatro minutos de inatividade. Já a partir deste mês, todos os ônibus da marca, urbanos e rodoviários, já saem de fábrica com este sistema, de série.

 

Energia, quando dois é pouco e três é demais 

 

Segundo a Mercedes-Benz, a energia elétrica gerada pelos alternadores em um ônibus é superdimensionada. Isso ocorre porque como há diferentes configurações exigidas pelos vários sistemas brasileiros, é necessário trabalhar com uma sobra.

 

Há cidades, por exemplo, que pedem três letreiros eletrônicos no mesmo veículo (traseiro, lateral e frontal), ar-condicionado, câmeras, monitores de TV, carregadores para celulares, entre outros dispositivos.

 

É impossível fazer um conjunto de alternadores para cada sistema de transporte. Além disso, é muito comum no Brasil, as prefeituras ou governos estaduais pedirem mudanças nas configurações dos ônibus bem no meio do contrato. Por isso, tem de haver energia elétrica de sobra para as mais variadas funções dentro do ônibus: partida, letreiros eletrônicos, faróis, lanternas, luzes internas, validadores, GPS, etc

 

Mas, para produzir toda esta energia, os alternadores, que são ligados ao motor por correias, fazem com que o propulsor trabalhe mais e gaste mais combustível. E o pior, esta energia extra é desperdiçada.

 

Na prática, foi queimado combustível (e dinheiro) à toa.

 

A montadora implantou nos ônibus brasileiros urbanos de motor traseiro um sistema que recupera esta energia, e aproveita novamente para o veículo. Com isso, os alternadores precisam gerar uma energia menor e não “forçam” tanto o motor.

 

Para que o sistema funcione, a Mercedes-Benz utiliza supercapacitores.

 

A diferença em relação às baterias, é que os supercapacitores têm a mesma capacidade de armazenamento, mas carregam e descarregam de energia de maneira mais rápida, atendendo assim todo o ciclo de energia extra gerada. Se o sistema demorasse para carregar, continuaria havendo desperdício e os componentes elétricos e eletrônicos dos ônibus não receberiam a energia correta no tempo necessário. Por isso que “guardar” essa energia numa bateria seria menos viável.

 

O sistema de recuperação de energia age principalmente nos momentos de desaceleração.

 

Mas atenção. Este sistema não é o KERS – Kinetic Energy Recovery System, ou, a frenagem regenerativa.

 

Enquanto KERS produz energia, transformando a energia cinética do atrito dos freios em energia elétrica, o RKM recupera a energia que foi produzida pelos alternadores.

 

“Fizemos simulações e constatamos que este sistema, ao fazer com que os alternadores exijam menos do motor, pode-se conseguir uma economia de 2% de óleo diesel. Com o sistema, o ônibus fica em torno de 2% mais caro, mas pela economia de combustível, essa diferença se paga em três anos, em média” – disse Walter Barbosa.

 

O diretor de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz citou o exemplo do modelo O 500U, urbano de piso baixo.

 

O veículo tem três alternadores de 80 amperes cada. Sendo assim, é gerada uma energia em torno de 240 amperes. Os dispositivos básicos deste ônibus necessitam de aproximadamente 180 amperes. Com isso, 60 amperes são desperdiçados, com o motor sendo exigido pelos alternadores, gastando combustível, mas não aproveitando toda a energia gerada.

 

O módulo então vai recuperar os 60 amperes extras e devolver ao sistema para alimentar todos os dispositivos elétricos do ônibus.

 

Com isso o alternador vai precisar de menos energia e exigir menos do motor deste ônibus.

 

A quantidade de amperes necessária depende do porte do veículo e também do número de componentes que o ônibus tem.

 

O sistema de recuperação de energia elétrica estará disponível a partir de janeiro para os ônibus urbanos O500 U (urbano piso baixo) e O 500 M  (urbano piso alto), O 500 UA (urbano piso baixo articulado), O 500 MA (urbano piso alto articulado), O500 MDA (urbano de piso alto superarticulado) e O500 UDA (urbano piso baixo superarticulado).

 

“Realizamos estudos e percebemos que, inicialmente, os investimentos para o módulo e o perfil de consumo e operação justificam o investimento para os ônibus deste porte. No caso do motor frontal, os alternadores ficam próximos às necessidades de geração e consumo de energia e, no caso dos ônibus rodoviários, não há tanto este problema de desperdício porque são veículos que realizam menos paradas, arrancadas e os dispositivos são utilizados de maneira mais uniforme” – complementou Walter.

 

O sistema também foi implantado no modelo internacional Citaro.

 

Os super capacitores usados no Brasil, segundo a Mercedes-Benz, têm baixa tensão: 24 V.

 

Parada consciente 

 

A cena não é tão rara. Você está no terminal de ônibus, rodoviária o ponto final e vê o veículo parado com motor ligado. Logo vem aquela esperança para o passageiro: “Opa! Meu ônibus vai sair em breve e vou chegar mais cedo em casa ou no trabalho” – Pura ilusão.

 

Passa o tempo, vão-se os minutos e o ônibus continua ligado. Quando você olha para o veículo, o motorista sequer está dentro.

 

A prática não representa apenas frustração para os passageiros, mas também significa gastos com combustível e emissões de poluição sem qualquer objetivo.

 

Não há uma estimativa exata do custo que isso pode representar porque os sistemas de transportes no Brasil têm características diferentes de operação.

 

Mas, segundo a Mercedes-Benz, esta é uma queixa comum das empresas de ônibus.

 

A montadora então desenvolveu, com base nesta demanda de mercado, o EIS – Engine Idle Shutdow, sistema que desliga automaticamente o motor do ônibus.

 

O item passa a ser de série em todos os modelos da marca, desde micro-ônibus mais simples até rodoviários mais sofisticados e superarticulados, já a partir desse mês de agosto.

 

De fábrica, o ônibus já vem programado para desligar o motor após quatro minutos de inatividade, mas a empresa pode junto ao concessionário fazer a programação que achar melhor.

 

Vale lembrar que o sistema não desliga o ônibus nas paradas rápidas para embarque e desembarque ou no trânsito. Assim, não se trata de um start/stop.

 

Desta forma, o desligamento automático só vai funcionar nas seguintes condições: o motor deve estar em marcha lenta, o freio de estacionamento deve estar acionado, o freio de serviço (pedal) livre e a marcha deve estar na posição neutra ou desengatada.

 

Sobre os impactos do custo em relação aos combustíveis por causa da prática de o motorista deixar o veículo ligado de forma desnecessária, a Mercedes-Benz a título apenas de ilustração, utilizou como exemplo a frota de ônibus da capital paulista, que é de 14.700 veículos aproximadamente e o preço do diesel em R$ 2,60 o litro, ainda sem a tributação do PIS/Cofins elevada.

 

Se por dia, todos estes ônibus ficassem 30 minutos parados em funcionamento, seriam gastos três litros por hora. Ao final do ano, o sistema gastaria R$ 21 milhões de diesel, dinheiro que seria suficiente, por exemplo, para comprar 40 ônibus tipo Padron.

 

Antes do desligamento, aparecem mensagens no painel do motorista alertando que o sistema entrará em ação. O objetivo é fazer com que o motorista retome a operação do veículo ou então desligue antes.

 

Painel avisa motorista que motor vai ser desligado.

 

O sistema Fleet Board, da Mercedes-Benz, que monitora em tempo real as operações dos veículos, também foi usado como base para demonstrar que os investimentos neste sistema são vantajosos.

 

O modelo europeu Citaro também terá a tecnologia.

 

“Além da economia de combustível e redução das emissões, um dos resultados que esperamos com esse sistema de desligamento automático é conscientizar os motoristas da necessidade de operar corretamente os veículos. Muitas vezes o ônibus é deixado ligado por um esquecimento ou falta de controle” – disse Walter.

 

É possível instalar um módulo em ônibus usados, desde que fabricados a partir de agosto de 2016 e que já tenham o novo painel da marca. (Diário do Transporte/Adamo Bazani)