O Estado de S. Paulo
Pela primeira vez em mais de três anos as vendas acumuladas de veículos no ano devem ser levemente positivas na comparação com o ano anterior. Dados preliminares mostram que até sexta-feira, 26, foram emplacados quase 790 mil veículos, pouco acima dos 784 mil registrados em igual intervalo de 2016. Se a média diária de vendas se manter até o fim do mês, como espera a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as vendas nos cinco meses vão superar, ainda que timidamente, o resultado de 2016.
“Tivemos na última sexta-feira, 26/5, a virada para números positivos”, informou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale. Ele receia, contudo, que a crise política possa reverter os dados positivos. “Caso se prolongue, pode levar de novo à queda do nível de confiança de consumidores e investidores”, diz.
Nos dois primeiros dias logo após a divulgação das denúncias, o mercado retraiu, mas depois voltou a crescer, disse Megale. Até sexta-feira, 26, foram vendidos pouco mais de 152 mil veículos, cerca de 23% acima dos resultados de abril (que teve menos dias úteis) e quase 9% melhor que o mesmo mês de 2016.
No acumulado do ano, automóveis e comerciais leves já apresentam alta nas vendas na comparação anual, de 0,3%, mas caminhões e ônibus – que representam 25% das vendas totais – seguem com queda elevada, de 22,3%.
Futuro
Megale afirmou que, apesar da crise atual, o setor segue trabalhando “como se nada estivesse acontecendo”, com representantes do governo para definir as novas diretrizes para o setor automotivo que vão entrar em vigor em 1º de janeiro, em substituição ao Inovar-Auto, que teve sua vigência nos últimos cinco anos.
O objetivo é ter um esboço das medidas até o fim deste mês e, em agosto, o texto final que deverá ser adotado por Medida Provisória ou decreto. Os principais pontos que devem constar dessa nova política, segundo a Anfavea, são:
– Recuperação da cadeia de autopeças para ampliação da nacionalização de componentes, por meio de linha especial de financiamento;
– Estabelecer um cronograma para a instalação de itens de segurança nos veículos;
– Definir metas de continuidade da melhora da eficiência energética dos veículos, mas dessa vez sincronizadas com a redução de emissões de poluentes;
– Programas para estimular pesquisa e desenvolvimento para a nacionalização de novas tecnologias, como a de carros híbridos e elétricos, mas sem esquecer os avanços do etanol e a limitação do consumidor brasileiro em relação a renda;
– Plano de simplificação dos impostos.
Plano mais amplo
Esses itens seriam a primeira parte de um programa nacional mais amplo, para todos os setores, chamado de Rota 2030. Nele, entram também a reforma tributária, começando pela revisão da cobrança do IPVA, sem que isso implique em corte de impostos. Também inspeção veicular (em substituição ao programa de renovação da frota) e um plano de melhora na logística do País.
O plano visa sobre tudo a previsibilidade, que é muito importante para os investidores, ressaltou Megale. Ele ressaltou que, mesmo que o presidente Michel Temer não permaneça no cargo, seria importante manter o quadro técnico nos ministérios para que o assunto seja levado adiante. “O País passa por um problema violento de competitividade e, se não enfrentar esse desafio, o dia em que a economia brasileira se abrir para o mundo, a indústria brasileira vai sucumbir”. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)