O Estado de S. Paulo
Com vendas de modelos novos em baixa há quatro anos, em razão da crise econômica, os automóveis que rodam pelo País estão mais velhos. A dificuldade dos consumidores em comprar o primeiro carro zero quilômetro ou em substituir o modelo atual por um novo elevou para 9 anos e 4 meses a idade média da frota em circulação, a mais alta em dez anos.
Em 2006, a idade média dos automóveis brasileiros era de 9 anos e 2 meses. A partir daí, veio se renovando quase que consecutivamente até 2013, quando as vendas passaram a cair, após nove anos seguidos de alta. Em quatro anos, a frota envelheceu dez meses. Somados aos comerciais leves, caminhões e ônibus, a idade média é um pouquinho mais nova, de 9 anos e 3 meses.
Veículos com até cinco anos de uso, chamados de seminovos, eram 43% da frota em 2012, antes da crise. Hoje são 34%, segundo estudo da frota brasileira recém-concluído pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
Veículos com seis a 15 anos de uso são 49% da frota e de 16 a 20, 13%. Já aqueles com mais de 20 anos representam 4% do total.
“Há uma tendência de envelhecimento da frota em razão da menor entrada de carros novos no mercado”, confirma o conselheiro do Sindipeças, Elias Mufarej. Nos últimos quatro anos, as vendas de veículos novos caíram 46%, de 3,8 milhões de unidades em 2012 para 2,05 milhões no ano passado.
Segundo Mufarej, esse quadro de envelhecimento da frota vai exigir um trabalho de orientação aos proprietários da necessidade de fazer a manutenção dos veículos para que “rodem em condições seguras.”
Para Mufarej, o segmento de caminhões é ainda mais preocupante pois, em dois anos, a idade média da frota passou de 9 anos e 5 meses para 10 anos e 3 meses. “Se essa é a média, significa que há caminhões com mais de 25 anos rodando”, diz ele, que defende urgência para um programa de renovação dessa frota.
Tamanho
O estudo estima em 42,8 milhões o tamanho da frota total circulante de veículos em 2016, apenas 0,7% maior que a do ano anterior. É o menor crescimento em mais de dez anos. Só em automóveis, a frota é de 35,6 milhões de unidades, 1% a mais que em 2015.
No setor de motocicletas, a frota diminuiu 1,2%, para 13,4 milhões de unidades, fato inédito. “É um segmento que atende mais as classes B e C, que dependem do crédito direto, que ficou mais escasso”, diz Mufarej. “O desemprego também contribuiu para a queda das vendas”.
O número de habitantes por veículo manteve-se em 4,8, mesma proporção do ano anterior, interrompendo assim uma sequência de melhora no índice de motorização no Brasil, que era de 7,7 habitantes para cada veículo há dez anos.
Na vizinha Argentina, esse índice é de três pessoas para cada carro, enquanto nos Estados Unidos é de praticamente um por um.
Mortalidade
Para calcular a quantidade de veículos em circulação no País, o estudo da frota, realizado anualmente pelo Sindipeças, considera uma taxa de mortalidade de 1,5% ao ano para os automóveis e de 1% para caminhões e ônibus, em razão dos veículos que são retirados de circulação por motivos variados, como acidentes com perda total e desmanche.
Em razão disso, os números são diferentes daqueles apresentados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), que não aplica essa taxa e, portanto, apresenta dados bem superiores.
O objetivo do levantamento é dar subsídio às fabricantes de autopeças para a programação do tipo de peça que terá de produzir ao longo do ano. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)