Montadoras descumprem regras do acordo automotivo

O Estado de S. Paulo

 

Ao mesmo tempo em que colabora para a redução da ociosidade das montadoras brasileiras, que atualmente é de 55% em razão da fraca demanda interna, a alta das importações da Argentina leva o Brasil a violar, no momento, o regime automotivo entre os dois países.

 

Fechado em junho do ano passado, o acordo estabelece coeficiente de desvio sobre as vendas (flex) de 1,5 no período que compreende junho de 2015 a junho de 2020. Significa que o Brasil pode exportar US$ 1,5 para cada US$ 1 importado da Argentina livre de impostos.

 

Desde o início da vigência do novo acordo até março, o Brasil exportou US$ 13,4 bilhões em veículos e autopeças para a Argentina. Em razão da crise o País importou apenas US$ 6,9 bilhões, segundo cálculos obtidos com base em dados do Ministério da Indústria e Comércio. Os resultados de abril ainda não entram nessa conta.

 

Levando-se em conta o flex, as empresas brasileiras já exportaram US$ 3 bilhões além do coeficiente estabelecido. Segundo o acordo, a empresa que não cumprir a regra terá de recolher o Imposto de Importação (de 35% para carros e de 16% para peças), sobre diferenças que persistam até 2020.

 

A multa recairá sobre a empresa que importou sem a contrapartida da exportação. Como as mesmas montadoras atuam no Brasil e na Argentina a penalidade será compartilhada.

 

Para compensar sua defasagem, a Volkswagen, por exemplo, estuda produzir um novo automóvel na Argentina, o que ampliaria suas importações, informa David Powels, presidente da companhia.

 

Fôlego

 

Para o diretor da consultoria Roland Berger, Rodrigo Custódio, a recuperação da Argentina de fato traz certo fôlego ao País. Ele lembra que o Brasil está se posicionando para exportar mais, mas tem pouca competitividade e depende muito de acordos comerciais.

 

Além disso, o mercado que as empresas brasileiras conseguem atender, o da América Latina, “não é tão grande e vai se exaurir”, prevê Custódio.

 

Por enquanto, as montadoras usufruem da demanda maior e devem rever para cima a projeção feita no início do ano de exportar 558 mil veículos. Em valores, o aumento inicialmente projetado é de 7%, para US$ 11,4 bilhões. De janeiro a abril o saldo de US$ 4,6 bilhões é 52,6% superior ao de 2016. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)