Carros não poluentes são a solução para um trânsito ambientalmente correto?

Diário do Transporte

 

O colunista Eduardo Sodré, da Folha de S. Paulo, anunciou a entrada no mercado brasileiro de utilitários modernos, não poluentes. O colunista os apelida de ‘carrões’, por serem modelos voltados a um mercado de elite, os apaixonados por carros potentes, velozes e com tecnologias avançadas e – por que não? – ambientalmente corretos.

 

O primeiro carrão citado pela reportagem é um moderno e revolucionário modelo Volvo XC90 T8, que roda apenas com energia elétrica por 35 quilômetros. Mas apesar das vantagens ambientais, a matéria ressalta que este não é o principal fator de compra.

 

Pelo preço nada amistoso de R$ 457 mil, Leandro Teixeira, diretor de marketing da Volvo, explica que o produto responde a pesquisas realizadas pela empresa, que mostram que clientes desse segmento estão mais interessados em itens como potência, status e tecnologia, e raramente se preocupam com questões ecológicas.

 

Se não há carros mais acessíveis e livres de emissões ainda no país, o modelo da Volvo já sinaliza os ganhos reais das novas tecnologias. O Volvo XC90 T8 foi analisado pelo Instituto Mauá de Tecnologia e, na prova de consumo urbano no modo híbrido, teve média de 29,4 km/l com gasolina. Este é o melhor resultado já obtido entre todos os carros que passaram pelo teste. Ainda há a possibilidade, limitada a 35 quilômetros, de rodar usando somente eletricidade.

 

Voltados a um mercado classe A, além do modelo da Volvo que chega ao Brasil, já existe o modelo Porsche Cayenne Hybrid (custo de R$ 432 mil) e o esportivo BMW i8 (a um custo ainda mais espantoso de R$ 798 mil), que aliam potência, status e tecnologia a um conceito ecológico moderno, sem poluentes. A idéia das montadoras é mostrar que também para esses supercarros é possível pensar num futuro menos poluído, ainda mais num país como o Brasil, que tem muita energia limpa a oferecer, mas com poucos veículos para aproveitá-la.

 

Além das marcas citadas, existe a japonesa Toyota, uma das montadoras que mais apostam na massificação dos carros verdes. Por diretriz da empresa, todos os seus novos veículos terão alguma tecnologia não poluente até 2050. Para esta finalidade, o principal modelo é o híbrido Prius, vendido no Brasil por R$ 126,6 mil (sem sistema plug-in).

 

Roger Armellini, gerente geral de planejamento de produto e preço da Toyota no Brasil, informou à Folha que “carros desse tipo são pensados para os ‘early adopters’, termo que define aqueles que gostam de ser os primeiros a adotar uma nova tecnologia. Eles querem ter uma imagem descolada e ditam tendências”, diz.

 

Mas serão os carros elétricos ou híbridos (ou com outros combustíveis ambientalmente corretos) a solução para as duas questões que mais incomodam as cidades no futuro imediato, a poluição e congestionamento?

 

Olimpio Álvares, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica ambiental e de segurança e emissões veiculares, responde a essa questão com uma visão mais ampla. Segundo Olimpio, que também é membro fundador da Comissão de Meio Ambiente da ANTP, haverá um número grande de veículos poluidores em circulação nos próximos 30 anos. E a partir daí, ele analisa, “mesmo se a frota de automóveis crescesse somente com veículos elétricos – o que não é, por enquanto, a realidade – a velocidade média do tráfego seguirá diminuindo e isso aumentará inexoravelmente a emissão global da frota poluidora remanescente mais velha, em níveis mais preocupantes”.

 

Logo, não basta ter carros que emitem menos, se não há ruas para todos rodarem, nem políticas públicas amplas que tratem do problema da atual frota rodante – o remédio da inspeção veicular, que apesar de prevista em lei já aprovada, até hoje não saiu do papel nas grandes metrópoles do país. “A saída foi e sempre será o investimento pesado em transporte de massa”, conclui Olimpio.

 

“Encher as ruas no futuro com carros particulares elétricos limpos e silenciosos, entupindo as ruas congestionadas, não elimina o problema da imobilidade agravada, do stress, da extrema e inamistosa ocupação indevida e injusta do espaço urbano e dos riscos de acidentes. O futuro da mobilidade urbana sustentável passa necessariamente pela instalação de um sistema de transporte público coletivo e de massa em larga escala, limpo, silencioso e com prioridade total de circulação no sistema viário. Esse, desde já, deveria ser o norte das políticas de mobilidade e de desenvolvimento social”. (Diário do Transporte/Alexandre Pelegi)