O Estado de S. Paulo
Depois de ver sua participação no mercado despencar mais uma vez, de 14,5%, em 2015, para 11,5%, no ano passado, a Volkswagen vai voltar ao jogo, conforme define o presidente da montadora no Brasil e Região América do Sul, David Powels. Neste ano, a marca terá nove lançamentos, sendo dois de modelos inéditos, o novo hatch Polo e o sedã Virtus, ambos fabricados em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
Os demais lançamentos devem ser mudanças em motorização e atualizações, como a apresentada ontem, em São Paulo, para o up!. O compacto ganhou mudanças estéticas na parte frontal e na traseira, novo painel e tecnologias para melhor conectividade.
O preço da versão de entrada com quatro portas não mudou: parte de R$ 38 mil. A mais cara, a esportiva cross, custa R$ 55,6 mil, R$ 1,5 mil a mais do que a anterior. A versão com duas portas sai de linha. O up! 2018 começa a ser vendido ainda este mês.
“Além da queda do mercado como um todo no ano passado, tivemos problemas de fornecimento de peças que paralisaram nossa produção por dois meses”, disse Powels. Agora, além de ter resolvido esse entrave, a Volkswagen aposta nos novos produtos. “Estamos voltando ao jogo”, acrescentou.
No primeiro trimestre, a marca viu sua participação no mercado de automóveis e comerciais leves subir para 12,8%, mantendo-se em terceiro lugar no ranking, atrás da General Motors (17,8%) e da Fiat (13,6%). No trimestre, foram vendidos ao todo 459,8 mil veículos desse segmento, 1,12% a menos do que em igual período de 2016.
As mudanças do up!, que responde por cerca de 16% das vendas da marca, são uma tentativa de aumentar sua performance no mercado. O modelo, que hoje concorre com Ford Ka, Fiat Mobi e Uno, vendeu no ano passado 38,3 mil unidades, ante 53,5 mil em 2015.
Quando foi lançado, em 2014, o up! tinha para a Volkswagen missão comparável à do Fusca, “de levar mobilidade a muitos brasileiros que ainda não tinham condições de comprar um automóvel”, tarefa não cumprida em razão do preço considerado elevado para um carro pequeno, mesmo tendo tecnologia acima da média para o segmento e sendo considerado o mais seguro entre os compactos.
“O posicionamento (de preço) ficou acima do que planejávamos”, admitiu Powels, que apresentou como uma das justificativas a mudança cambial que encareceu itens importados.
A reestilização do up!, assim como os próximos lançamentos, está incluída no plano de investimento de R$ 7 bilhões para o período 2016-2020. Em termos de portfólio de automóveis, a marca terá Gol, up!, Fox, Polo, Virtus e Golf.
Em 2018, chegarão também um utilitário-esportivo e uma picape, que provavelmente serão produzidos na unidade do Paraná. O up! é feito em Taubaté (SP). O executivo aposta também no aumento das exportações para países da região, que devem chegar a 150 mil unidades, ante 107,3 mil em 2015.
Conteúdo nacional. Powels afirmou que os novos modelos terão menos conteúdo nacional por terem mais itens tecnológicos que não são produzidos no Brasil e também em razão da dificuldade financeira das fabricantes de autopeças em investir em linhas para produção de novos componentes.
Como exemplo, lembrou que o Gol tem mais de 90% de conteúdo local, enquanto o up! tem entre 70% e 75%, porcentuais parecidos aos dos novos produtos que chegam este ano.
“Os fornecedores perderam competitividade nos últimos dez anos, em parte por causa do aumento do custo da mão de obra acima da inflação, que não foi acompanhado por maior produtividade”, afirmou Powels. “Precisamos debater com o governo e com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) um pacote de financiamentos para facilitar a nova fase de investimentos”, disse, ao lembrar que a necessidade de novas tecnologias nos automóveis chegou junto com a forte queda das vendas por causa da crise econômica.
Powels prevê melhora de 5% nas vendas totais de automóveis e comerciais leves, de 2 milhões para 2,1 milhões de unidades neste ano, com melhor performance no segundo semestre. Ele disse não acreditar que a crise política vá atrapalhar essa recuperação e ressaltou que o grupo fez, nos últimos dois anos, a maior reestruturação de sua história no País, que incluiu o corte de 4 mil empregos. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)