O Estado de S. Paulo
Com alta de 70% nas exportações no primeiro trimestre em relação a 2016, puxada principalmente pelo mercado argentino, as montadoras registraram crescimento de 24% na produção, para 609,8 mil veículos. Só em março foram produzidas 234,7 mil unidades, o melhor resultado mensal em dois anos.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, comemora o resultado anunciado ontem, mas ressalta que ainda está longe de reduzir a ociosidade das fábricas, na casa dos 50% para o setor como um todo e de mais de 70% só para o segmento de caminhões.
Apesar de crescer pelo terceiro mês seguido, a produção não teve impacto no nível de emprego. Em 12 meses, as montadoras de veículos fecharam quase 10 mil postos, número que cai para 7,8 mil quando considerado o segmento de máquinas agrícolas, que gerou 2,1 mil postos.
Segundo Megale, a indústria realiza forte trabalho de aumento da produtividade para melhorar sua competitividade. Ressalta ainda ser necessário mais alguns meses de crescimento robusto de produção para que a queda de vagas se reverta.
O setor emprega 121 mil trabalhadores, dos quais 9.074 operam com jornada de trabalho reduzida e 1.562 estão com os contratos suspensos (lay-off).
As vendas internas também melhoraram em março e somaram 189,1 mil veículos. Foi a primeira alta anual em 26 meses. O resultado do trimestre, contudo, é o pior em dez anos, com 472 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus vendidos, queda de 1,9% ante 2016.
Argentina
As exportações somam 172,7 mil unidades de janeiro a março, o equivalente a 28% da produção do período. “Foi o melhor trimestre da história”, diz Megale, para quem os acordos comerciais fechados com Uruguai e Chile ajudam no desempenho. Mas o grosso dos negócios vem da Argentina, mercado que este ano deve registrar consumo recorde de cerca de 900 mil veículos.
Mantendo o ritmo atual e com novos acordos, a Anfavea acredita que as exportações brasileiras serão recorde. Em valores, há um crescimento de 51% até agora, para US$ 3,3 bilhões.
Megale ressalta que o desempenho do setor depende do cenário econômico e político e torce para que as reformas sejam aprovadas. Também espera que o presidente Michel Temer permaneça no cargo, pois sua saída levaria a um novo cenário de desconfiança de investidores e queda de investimentos.
A Anfavea negocia com o governo a nova politica industrial em substituição ao Inovar-Auto, que vence em dezembro. Um dos pontos em discussão é o corte de imposto para peças importadas pelas fábricas recém-instaladas (Audi, BMW, Land Rover e Mercedes-Benz). As marcas de luxo temem que o fim da isenção de 30 pontos porcentuais do IPI para carros feito no País inviabilize novos projetos. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)