O Estado de S. Paulo/Reuter
O plano do Uber de ter carros autônomos não parece ir nada bem. Além de ser acusada na Justiça norte-americana de ter roubado a tecnologia da Waymo – divisão de veículos sem motorista do Google –, a empresa também não tem tido bons números em seus primeiros testes com os carros que se dirigem sozinhos.
Segundo dados obtidos pelo site norte-americano Recode, a partir dos testes da empresa nos Estados Unidos, os motoristas humanos tiveram de assumir o controle dos carros autônomos, na média, uma vez a cada 1,5 quilômetro de trajeto – por razões de segurança, os testes de carros autônomos devem contar sempre com um humano de sobreaviso para dirigir os carros.
De acordo com as métricas da própria empresa, esse tipo de incidente acontece quando a rua tem sinalização ruim, há problemas com o tempo ou o sistema é incapaz de fazer uma curva em específico. Além disso, os motoristas tiveram de assumir o controle do carro a cada 140 quilômetros de viagens para evitar um problema “crítico” – como causar danos materiais à alguém, bater em outro carro ou atropelar um pedestre.
Ao todo, a empresa tem 43 carros, que nas últimas semanas percorreram, juntos, cerca de 33,3 mil quilômetros. Em Pittsburgh, por exemplo, onde a empresa está sediada e já oferece corridas a passageiros com veículos autônomos, na última semana a empresa teve cerca de 930 viagens “comerciais” – por conta da natureza de testes, todas as viagens feitas com carros autônomos são oferecidas gratuitamente aos usuários.
Arbitragem
Na Justiça, a empresa está buscando uma nova forma para se defender da acusação de roubo de tecnologia da Waymo, empresa que pertence à Alphabet, holding do Google. Na última quinta-feira, 16, um advogado do Uber disse a um juiz federal nesta quinta-feira que pretende registrar uma petição para forçar a arbitragem no caso do roubo dos segredos comerciais da Waymo.
Na primeira audiência entre as partes diante do juiz William Alsup em San Francisco, Arturo Gonzalez, advogado do Uber, disse que um acordo de trabalho assinado por Anthony Levandowski quando trabalhou na Waymo tem uma “disposição de arbitragem muito ampla” que deveria ser usada. Depois de sair da Waymo, Levandowski fundou a Otto, startup de caminhões autônomos que foi comprada pelo Uber.
A arbitragem é um processo privado e uma maneira mais rápida e menos dispendiosa de resolver disputas do que ir a julgamento. Em uma arbitragem, o caso é ouvido por um árbitro escolhido mutuamente acordado pelos dois lados. O árbitro tem a autoridade exclusiva para fazer uma decisão, e em geral, não pode haver apelação da decisão do árbitro.
Em seu processo, a Waymo disse que, antes de deixar a empresa, Levandowski baixou mais de 14 mil documentos confidenciais sobre o trabalho da Waymo no Lidar, um sensor importante usado em tecnologia autônoma.
Ao discutir como o pedido de uma liminar da Waymo para impedir o Uber de usar a tecnologia contestada pode ser afetado por uma moção para arbitragem, o juiz disse a Gonzalez: “Este não é um movimento frívolo”.
“Vocês não recebem muitos casos em que há uma prova bastante direta de que alguém baixou 14 mil documentos e saiu no dia seguinte”, disse Alsup.
Gonzalez explicou a intenção de buscar a arbitragem dizendo que “não sei se o tribunal se perguntou por que os indivíduos (mencionados na queixa) não são réus. Aqui está a resposta, porque há um acordo de trabalho que tem uma ampla arbitragem”.
“Nós pretendemos registrar a permissão para pedir a arbitragem dentro de duas semanas”, disse Gonzalez.
O advogado da Waymo, Charles Verhoeven, confirmou que Levandowski assinou um acordo que incluía disposições de não divulgação. (O Estado de S. Paulo/Reuter)