Mercado brasileiro deve levar dez anos para voltar ao patamar recorde

DCI

 

O mercado automotivo brasileiro, que historicamente figurou entre os cinco maiores do mundo, deve levar ao menos dez anos para voltar ao patamar recorde de 2012. Segundo analistas, o ano que vem deve ser só o início de uma longa batalha por sobrevivência.

 

“O triênio de ouro para o setor automotivo, que se encerrou em meados de 2013, não deve voltar em um horizonte mínimo de oito a dez anos, principalmente porque a bolha de crédito estourou”, afirma o consultor Fábio Silveira, da MacroSector.

 

O analista automotivo da Tendências Consultoria, João Morais, aponta o desemprego como outro fator preponderante para impedir o retorno do mercado brasileiro ao patamar recorde de 3,8 milhões registrado em 2012.

 

“Sem uma melhora substancial do mercado de trabalho, o que traria aumento da renda do brasileiro, será difícil retornar ao nível de vendas recorde da nossa indústria”, pondera Morais.

 

Ele acrescenta que, atualmente, há crédito disponível para a compra de veículos, entretanto, as instituições financeiras continuam cautelosas. “Os bancos estão muito líquidos, mas os fundamentos da economia ainda restringem a concessão de crédito”, explica o analista.

 

Na projeção da Tendências, as vendas totais de veículos novos devem recuar 18,7% em 2016, para 2,089 milhões de unidades, em linha com a previsão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Já para 2017, a consultoria espera um aumento de 9,9% dos licenciamentos, para 2,296 milhões de unidades.

 

A MacroSector, entretanto, estima um crescimento das vendas domésticas de apenas 2% para o ano que vem. “O quadro continua muito ruim”, pontua Silveira.

 

O presidente da Anfavea, Antonio Megale, reforçou nesta terça-feira (06) que a retomada do mercado deve ocorrer só a partir do segundo semestre de 2017. “As vendas devem voltar de forma gradual para que, em 2018, possamos novamente trabalhar para estar entre os cinco maiores do mundo”, estimou.

 

Produção

 

Megale afirma que a projeção de 2,29 milhões de unidades produzidas para este ano não deve se confirmar. “Imaginamos um volume de 100 mil a 150 mil unidades a menos do que projetávamos para 2016”, disse o dirigente.

 

Ele justificou o desalinhamento da previsão à queda de produção de uma “associada” – a Volkswagen – que deixou de produzir mais de um mês devido a problemas com fornecedor. “Se não fosse isso, provavelmente teríamos acertado a nossa projeção”, alega.

 

Para Morais, a situação continuará dramática para as montadoras, que amargam uma ociosidade substancial. “Mesmo com o aumento das exportações, isso não será suficiente para preencher a lacuna deixada pelas vendas em baixa no mercado doméstico.”

 

De acordo com o diretor-executivo da Anfavea, Aurélio Santana, atualmente a capacidade instalada da indústria local gira em torno de 5,3 milhões de unidades. Considerando a produção estimada pela entidade para 2016, a ociosidade pode atingir 60% no setor. “O quadro está extremamente dramático do ponto de vista da capacidade instalada”, pondera Silveira. A MacroSector estima um crescimento da produção em torno de 9% para 2017; a Tendências, de 10,3% (somente para leves).

 

O único indicador que continua em trajetória de crescimento é o das exportações. De janeiro a novembro, as vendas totais de veículos ao exterior somaram 457,7 mil unidades, alta de 23,4% sobre igual período do ano passado.

 

“Temos visto diversos esforços das associadas para aumentar as exportações. Vimos inclusive a chegada de veículos brasileiros pela primeira vez em alguns países, o que só mostra o empenho das montadoras em abrir novos mercados”, salientou Megale.

 

Segundo o dirigente, a meta da entidade é que as exportações passem a representar 30% da produção nacional. Porém, ele afirma que ainda é difícil estimar uma data para quando isso deve acontecer.

 

“Já estamos no patamar de 25% atualmente, mas tudo vai depender do fortalecimento dos acordos comerciais”.

 

Megale admitiu que, atualmente, o cenário global não favorece novos acordos, principalmente após a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) e movimento similar tomando fôlego na Itália.

 

“Atualmente, posso dizer que as negociações com a União Europeia estão muito mais longe do que gostaríamos.” Ele acrescenta, contudo, que há um esforço de países como Brasil e Argentina, inclusive do Mercosul, para negociar com o bloco. “Mas a agenda deles está muito difícil.”

 

O dirigente disse ainda que o setor deve continuar avançando nas negociações para ampliar as exportações. “Temos que abrir o mercado gradualmente. Mas para tanto é preciso achar um ponto de equilíbrio”, avalia.

 

Curto prazo

 

O presidente da Anfavea comentou que a entidade não revisou as projeções para o setor, ao divulgar o seu balanço ontem, por “não fazer sentido” a essa altura. Reforçou, entretanto, que mantém a previsão de vendas para o ano, de 2,080 milhões de unidades.

 

Além da produção, os números de exportações também podem ser diferentes do que o projetado no início do ano. “Erramos, mas para menos. Espero que isso ocorra sempre”, ironizou Megale.

 

Enquanto isso, ele afirma que no curto prazo o Brasil precisa de estabilidade. “Aprovar as medidas de ajustes como o teto de gastos é essencial para que a economia possa se recuperar”, analisa. (DCI/Juliana Estigarríbia)