O Estado de S. Paulo
O progresso nos mais diversos segmentos tecnológicos irá trazer mudanças importantes e irreversíveis para praticamente todas as indústrias e serviços. São avanços em telecomunicações, robótica, automação, inteligência artificial e outras áreas que criam os elementos necessários para alterações estruturais nos negócios e no cotidiano.
O setor automobilístico, por exemplo, existente há mais de um século, está vivendo um movimento transformacional que atinge praticamente todos os seus aspectos: do carro em si às ruas e estradas, passando pelas demandas regulatórias, custos de seguro, fornecedores, processos de manufatura e comportamento do consumidor.
O motor de combustão interna foi criado em 1876 por Nikolaus Otto, um empreendedor alemão que começou sua vida profissional vendendo açúcar e café – um ótimo exemplo de como a inspiração para inovar e empreender pode surgir a qualquer momento para quem estiver atento às oportunidades de mercado. Hoje, 140 anos depois, algumas tendências já estão se definindo para o futuro de uma indústria caracterizada por veículos mecânicos e completamente dependentes de um operador humano.
Aspectos regulatórios aliados ao perfil do consumidor cada vez mais consciente com questões ambientais seguem movendo os fabricantes para tecnologias alternativas, como os veículos híbridos, elétricos e movidos a hidrogênio. Há pesquisas em andamento para melhorar de forma substancial a relação quilômetro por litro dos motores tradicionais de combustão interna, reduzindo também as emissões de gases poluentes. Esse é um ponto pouco considerado por analistas e um fator de risco que merece atenção quando se considera investimentos em novas formas de energia.
Atualmente, a frota de carros elétricos responde por apenas 0,1% do mercado, mas diversos fabricantes estão seguindo o paradigma estabelecido pela Tesla – primeira fabricante em larga escala de carros elétricos, com capitalização de mercado atual de cerca de US$ 30 bilhões. As montadoras estão investindo pesadamente em modelos que atendam a demanda do consumidor por um carro não-poluente, com autonomia adequada e custo comparável aos modelos já encontrados no mercado. Estima-se que isso irá ocorrer nos países desenvolvidos em algum momento do ano 2020 – ou seja, em pouco mais de 36 meses.
Como a adoção em larga escala de carros elétricos irá impactar o preço do barril de petróleo? Essa pergunta é importante para diversos setores, e não possui resposta fácil. Assumindo que iremos continuar caminhando para uma adoção maior de modelos elétricos e que o custo das baterias – item crítico na nova arquitetura veicular – irá seguir em queda, o passo seguinte é tentar identificar quando a frota movida a eletricidade irá atingir massa crítica.
De acordo com dados da Bloomberg New Energy Finance, assumindo-se um crescimento de vendas de carros elétricos entre 30% e 60% ao ano, o mercado automobilístico irá deixar de consumir cerca de 2 milhões de barris por dia a partir de algum momento entre 2023 e 2028. Esse número é relevante pois uma redução dessa magnitude no consumo global em 2014 causou uma queda de mais de 50% na cotação do petróleo. Evidentemente, o crescimento de alguns países, especialmente emergentes, pode compensar essa potencial perda de demanda. Mas ainda assim são dados que merecem atenção pelos seus potenciais desdobramentos econômicos.
Na semana que vem iremos prosseguir com a análise dos impactos das inovações tecnológicas no setor automobilístico, abordando um tema que vem ganhando cada vez mais popularidade: os carros autônomos. Até lá. (O Estado de S. Paulo/Guy Perelmuter)