O Estado de S. Paulo
Frustraram-se, em setembro, as expectativas de uma melhora no mercado de veículos esboçada entre abril e agosto, segundo a Carta da Anfavea, publicação oficial das montadoras. Em relação a agosto, caíram não só a produção (-3,9%, para 170,8 mil unidades), como os licenciamentos (-13%, para 160 mil veículos), persistindo as quedas comparativamente a 2015. Em razão do peso do segmento na indústria, a retomada do setor secundário tende a ser lenta, ainda que não se espere, para setembro, inflexão tão forte como a de agosto, quando a indústria recuou 3,8% após cinco meses de crescimento.
Motivos pontuais têm sido apresentados pelo setor para justificar o desempenho fraco da produção e das vendas, como a prolongada interrupção da produção numa das principais montadoras (Volkswagen) e a greve dos bancos, dificultando as operações de financiamento aos consumidores finais. Se as explicações se mostrarem precisas, haverá uma melhora da atividade no último trimestre, mas não são pequenos os obstáculos à frente.
As montadoras agem com cautela na produção, evitando os custos do carregamento de estoques. Situação não tão diferente é a de consumidores que evitam o endividamento em tempos de recessão, desemprego e juros altos. A melhora do mercado de usados favorece o segmento de novos, mas não a ponto de provocar otimismo.
O número de unidades exportadas cresceu 19,2% entre os primeiros nove meses de 2015 e de 2016, com destaque para veículos leves, caminhões pequenos e ônibus urbanos, mas o valor exportado caiu 3,2%, pois diminuiu o preço médio dos autoveículos.
A destruição de 1.368 empregos no setor em setembro e de quase 9 mil em 12 meses ainda é alta, enquanto milhares de trabalhadores continuam em regimes especiais. O contrário ocorreu em máquinas agrícolas e rodoviárias, com abertura de 379 vagas no mês e de 553 em 12 meses, mas, olhando o conjunto, são números modestos.
A produção de autoveículos nos últimos 12 meses caiu 22,2% em relação aos 12 meses anteriores, de 2,67 milhões para 2,08 milhões de unidades. No mesmo período, as vendas caíram ainda mais (-27,4%). O Brasil perdeu pontos no mercado global, saindo do 4.º lugar, entre 2012 e 2014, para uma posição entre o 8.º e o 10.º lugares em 2016.
Quanto mais lenta a recuperação prevista para 2017, pior para a indústria de transformação. (O Estado de S. Paulo)