Volkswagen acelera estratégia de “regionalização”

Financial Times

 

A Volkswagen elabora um plano de “regionalização” com que pretende descentralizar a tomada de decisões em relação a sua sede de Wolfsburg. A intenção é dar poderes às subsidiárias para que adaptem os produtos da marca Volks aos gostos locais.

 

A direção da montadora alemã lança mudanças revolucionárias na esteira do escândalo das emissões do ano passado, no qual a empresa reconheceu ter equipado 11 milhões de automóveis no mundo inteiro com software que adulterava resultados de testes. A empresa contabilizou o maior prejuízo anual de sua história devido aos custos gerados pela crise.

 

Pressionada pelos investidores a implementar uma reorganização, a Volkswagen fez um autoexame na tentativa de enfrentar os problemas de cultura que contribuíram para a crise e de reconquistar participação de mercado fora da Europa e da China.

 

Jürgen Stackman, que assumiu a direção de marketing e de vendas da principal marca de automóveis de passageiros da Volks em novembro, é um dos executivos responsáveis pela estratégia. Ex­executivo­chefe da marca Seat da Volks, ele disse que o modelo mais vendido da empresa, o Golf, é um produto de nicho na América do Sul, por ser relativamente caro.

 

A Volkswagen vende muito mais automóveis do modelo Gol, fabricados na região. Mas, nos últimos cinco anos, a montadora perdeu sua atratividade frente a muitos consumidores devido à sua lentidão em lançar modelos de aparência mais vistosa, baseados em estilos surgidos no Brasil. Ele disse que a Volks ainda está inovando, mas em uma área que não tem chamado a atenção localmente.

 

“Os europeus percebem a inovação mais com base na tecnologia”, disse ele, referindo­se à conectividade, a aplicativos de painel de instrumentos e motores de alta tecnologia. Mas na América do Sul “a novidade da aparência” tem mais importância, disse ele. “Em muitos mercados emergentes, o automóvel ainda é uma parte muito mais importante do dono ­ um símbolo de status”.

 

Independentemente de onde opera, a Volks tem o mesmo mercado­alvo: a classe média ascendente, grupo descrito por Stackman como “a faixa ótima” entre o segmento de massa e o “premium”. Mas, no passado, disse Stackman, a Volks pressupôs erroneamente que essa categoria de consumidor sempre quisesse o mesmo estilo de automóvel. Os concorrentes da Volks, enquanto isso, cortejaram clientes com produtos de nicho locais.

 

“Não se pode simplesmente copiar o que se fez, é preciso continuar conectado com quais poderão ser as aspirações da sociedade e fornecer isso no tempo certo”, disse ele. “A lição principal disso é a de que a massificação no modelo tipo exportação não é mais válida em termos mundiais”. (Financial Times/Patrick McGee)