O Estado de S. Paulo
No mesmo dia, empresa americana anunciou a estreia dos seus primeiros carros sem motoristas nas ruas, uma parceria com a montadora sueca Volvo para desenvolver veículos autônomos e a compra da startup Otto
O aplicativo de carona paga Uber anunciou ontem, de uma só tacada, três iniciativas para tentar deixar de depender dos mais de 1 milhão de motoristas que tem pelo mundo. Avaliada em US$ 68 bilhões, a startup americana começou o dia divulgando que vai colocar nas próximas semanas seus primeiros carros sem motorista para pegar passageiros pelas ruas da cidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Com o movimento, o Uber se torna a primeira empresa a usar a tecnologia em escala comercial no mundo.
A companhia também revelou uma parceria com a montadora sueca Volvo. As empresas vão dividir um investimento de US$ 300 milhões para criar carros totalmente autônomos. O desenvolvimento dos sistemas será feito em conjunto, mas a Volvo vai fabricar os veículos e o Uber se comprometeu a usá-los em sua frota quando estiverem prontos, em 2021.
A terceira iniciativa – que mostra que o Uber tem a ambição de ampliar sua área de atuação para além do transporte de passageiros – é a aquisição da startup Otto, fundada por ex-engenheiros do Google, que criou um caminhão autônomo. O Uber não revela quanto pagou pela startup, mas fontes da agência de notícias Bloomberg afirmam que o valor chegou a US$ 680 milhões.
“O cofundador da Otto Anthony Levandowski irá liderar nossos projetos de veículos autônomos, seja para o transporte de pessoas, entregas e caminhões”, disse o cofundador e presidente executivo do Uber, Travis Kalanick, em carta à imprensa. “É um passo muito importante.”
Impulso
O benefício mais imediato do uso de carros autônomos para o Uber é deixar de remunerar os motoristas que dirigem pelo aplicativo em todo o mundo – no Brasil, por exemplo, a empresa cobra uma taxa de 25% sobre o valor pago pelo passageiro e o restante é do motorista, na modalidade UberX. “Com o carro autônomo, o Uber poderá baratear ainda mais o serviço, além de ter uma frota maior e disponível 24 horas”, diz o pesquisador do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP São Carlos, Patrick Shinzato.
O anúncio do início da operação da tecnologia em Pittsburgh – onde está instalado o centro de tecnologias avançadas da empresa – não deve beneficiar apenas a companhia. A tecnologia, que tem previsão para chegar aos carros de passeio comerciais apenas na próxima década, pode ter seu tempo de desenvolvimento abreviado. Isso porque outras empresas que estão apostando alto em inovação para automóveis – como o Google e as grandes montadoras – devem entrar numa corrida contra o tempo para colocar seus projetos em operação.
Nessa disputa, o Uber sai na frente, com algumas vantagens em relação aos concorrentes. “O Uber sabe exatamente o que quer fazer com a tecnologia”, diz Shinzato. “Ao que parece, o Google domina a tecnologia, mas ainda não definiu o cenário em que quer atuar.”
Outro fator que beneficia a empresa é o maior controle sobre a operação da tecnologia no período de testes. Por operar em mais de 500 cidades no mundo, a empresa pode avançar aos poucos. Isso permite que as ruas e obstáculos de cada local sejam mapeados em detalhes e que técnicos especializados monitorem de perto os testes. “É muito diferente do cenário que as montadoras vão enfrentar ao iniciar as vendas dos primeiros carros sem motorista”, diz o pesquisador da USP São Carlos. “O nível de dificuldade da operação será muito maior.”
Supervisão
Os carros sem motorista do Uber que vão circular em Pittsburgh são versões modificadas do Volvo XC90 e do Ford Focus. Eles foram equipados com sensores, como câmeras, lasers, radares e GPS, que permitem ao carro se localizar pelas ruas. A tecnologia vai operar sob supervisão de um motorista e um engenheiro. Enquanto o primeiro ficará a postos para tomar o controle do carro se o sistema falhar, o engenheiro vai monitorar o desempenho do sistema e registrar os dados sobre todas as viagens realizadas. Os passageiros serão escolhidos aleatoriamente para testar a nova modalidade do serviço. (O Estado de S. Paulo/Claudia Tozetto)