O Estado de S. Paulo
As paralisações em linhas de produção de montadoras no País em julho e agosto podem voltar a afetar os resultados da produção industrial no País e prolongar o ajuste no pessoal ocupado na atividade, segundo especialistas.
Pelo menos seis fábricas de montadoras estão atualmente com as atividades suspensas. O segmento de veículos automotores responde por cerca de 10% de toda a atividade industrial brasileira, mas também influencia outros setores da cadeia produtiva.
“Mais importante do que o peso em si da atividade de veículos é o encadeamento com outros setores industriais, como os segmentos de outros produtos químicos; borracha e material plástico; metalurgia; máquinas, aparelhos e materiais elétricos; equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos; e até móveis, por causa dos assentos”, enumerou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Portanto, qualquer movimento no setor se reflete nos resultados da indústria no País, ressaltou o gerente do IBGE. “O setor de veículos automotores tem um encadeamento importante com outras atividades. Quando tem comportamento positivo, ele influencia positivamente. Mas o contrário também é verdadeiro”, disse Macedo.
Cortes
Apesar da melhora recente na produção, com avanço nos últimos quatro meses, a indústria ainda mantém a política de cortes de funcionários. O setor registrou crescimento nos últimos quatro meses, mas foi responsável pela extinção de 61 mil vagas apenas no segundo trimestre, de acordo com informações do IBGE.
Em relação ao segundo trimestre do ano anterior, foram extintas 1,440 milhão de vagas na indústria, praticamente o equivalente a todo o contingente de demitidos no País no período. O fechamento e paralisação recente de fábricas do setor automotivo pode tanto agravar a situação do emprego quanto postergar a recuperação da produção nas próximas leituras de indicadores do setor.
“Todas essas paralisações e reduções de jornadas que as montadoras fizeram para ajustar a produção nos últimos tempos têm aparecido nos resultados. Se teve paralisação em julho e agosto, claro que isso de alguma forma tem de aparecer nos resultados do setor”, disse.
A fabricação e automóveis e caminhões tem registrado oscilação nos últimos meses, mas acumulou crescimento de 14,4% dos avanços registrados em maio e junho. Mas ainda opera 48,7% abaixo do seu ponto mais elevado de produção alcançado em julho de 2011, dentro da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE.
Como consequência de meses de retração na produção, a indústria corta postos de trabalho. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 3 mil trabalhadores foram demitidos de janeiro a julho deste ano. Outros 21 mil empregados estão no Programa de Proteção e Emprego (PPE), que reduz jornada e salários, e 5 mil em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho). (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim)