Volkswagen rompe contrato com fornecedora e antecipa férias coletivas

O Estado de S. Paulo

 

A Volkswagen vai suspender toda a produção de automóveis e motores nas quatro fábricas no Brasil por mais de um mês. Até meados de setembro, os 11 mil trabalhadores da área produtiva, de um total de 18 mil no grupo, ficarão em férias coletivas.

 

O motivo é o rompimento do contrato com o grupo Prevent, dono de cinco fábricas que forneciam peças para a montadora e com quem ela travava uma disputa comercial há mais de um ano. A suspensão de contrato dessa forma é uma atitude rara no setor automotivo, segundo fontes do mercado.

 

A Volkswagen prepara outras empresas para substituir o fornecimento, entre outros itens, de bancos e peças estampadas, o que deve levar pelo menos um mês e meio. Nesta segunda-feira, 8, a montadora entrou na Justiça com pedido de retomada dos ferramentais de sua propriedade que se encontram nas unidades da Keiper, Fameq, Cavelagni e Mardel, pertencentes ao Prevent.

 

As férias coletivas nas fábricas de carros em São Bernardo do Campo, Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR), antes previstas para outubro, começam no dia 15 e se estendem por 20 a 30 dias. A produção já estava suspensa nessas unidades há mais de uma semana em razão da falta de peças estampadas, período em que a dispensa dos funcionários foi considerada como folgas ou redução de jornada pelo Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Na unidade de motores em São Carlos a paralisação começa segunda-feira.

 

Em nota distribuída, a montadora afirma que o fim do contrato é uma medida que causa pesados custos à empresa. Alega que “foi a última alternativa encontrada para normalizar sua operação e mitigar os impactos em toda a cadeia produtiva.”

 

Segundo a Volkswagen, desde o início de 2015, quando o Prevent comprou as fábricas de antigos fornecedores da marca, tiveram início os desentendimentos comerciais, pois o grupo pedia reajustes não estabelecidos nos contratos e suspendia o fornecimento para pressionar a negociação.

 

Ao todo, foram mais de 120 dias parados nas três fábricas e mais de 100 mil veículos deixaram de ser produzidos, informou a Volkswagen.

 

Surpresa

 

Em nota enviada pela Keiper, o advogado da empresa, Cesar Hipólito Pereira, afirma que o anúncio “nos pegou de surpresa, visto que ao longo dos últimos meses nossa diretoria tem se encontrado regularmente com a diretoria da Volkswagen para identificar e assegurar um denominador comum que atendesse as nossas demandas”.

 

Segundo o advogado, “chamou atenção e indignação o desrespeito demonstrado pela Volkswagen, já que durante todas as últimas reuniões de negociação era evidente a proximidade de fecharmos um acordo”. De acordo com ele, a Keiper já tinha decidido aceitar a proposta da montadora.

 

“Essa decisão de substituir o fornecedor é arbitrária e unilateral, e não leva em consideração o fato de a Keiper, ao longo destes anos, ter suportado o desequilíbrio econômico, incorrendo em grandes prejuízos, mantendo a relação com a mesma qualidade, desempenho e expertise”, afirma a nota.

 

A empresa cita “efeitos danosos que a decisão pode causar no ambiente de trabalho e risco aos colaboradores da empresa”. As cinco empresas do grupo Prevent estão instaladas em São Paulo (Mauá e Araçariguama) e Minas Gerais (Betim, Contagem e Cambuí) e empregam cerca de 1,5 mil funcionários.

 

No mês passado o grupo de origem alemã comprou a Fameq, que fornecia estampados para a Volks há 40 anos, e a fechou, transferindo a produção para outras de suas unidades.

 

O grupo fornece para diversas montadoras – incluindo a Fiat, que também teve problemas de desabastecimento –, mas a Volkswagen era sua maior cliente. Ainda não há informações de fechamento de unidades ou demissões.

 

A Volkswagen produz os modelos Fox, Gol, Golf, Jetta, Saveiro, up! e Voyage e não informa estoques. A parada da produção ocorre num momento em que as vendas da marca caíram 35% no período de janeiro a julho ante 2015. O mercado total de automóveis e comerciais leves teve queda de 24% no mesmo intervalo. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)