Toyota, finalmente, entra no time das “quatro grandes” montadoras

O Estado de S. Paulo

 

Quatro grandes: Volkswagen, Chevrolet, Fiat e Ford. Com alterações na ordem de importância (leia­se vendas), ano a ano, década a década, essas quatro montadoras foram consideradas “as quatro grandes”. Primeiro porque, evidentemente, só existiam elas. Depois, veio a abertura das importações, no governo Collor, e, entre o fim dos anos 90 e o início dos 2000, as chamadas “new comers” (como ficaram conhecidas as novas fabricantes francesas e japonesas).

 

Pois bem: as “new comers” vieram, abalaram as estruturas das quatro grandes e as levaram a perder participação de mercado (principalmente a Volkswagen, que, até então, era líder). Mas as quatro grandes continuaram quatro grandes, com esporádicas mudanças no posicionamento do ranking de vendas. Por anos e anos, a Fiat liderou, a VW e a GM se alternaram na segunda posição, a Ford quase sempre se manteve em quarto.

 

Então, veio a crise econômica brasileira, que agora já se estende por quase dois anos. Crise essa que atingiu em cheio o setor automobilístico. Resultado: o ranking das marcas que mais vendem carros virou uma corrida maluca. E, em julho, a Toyota realizou um antigo sonho: entrou para o time das quatro grandes.

 

Voltemos, então, a 2005: naquela época, a Toyota já anunciava que pretendia conquistar 10% do mercado brasileiro até 2010. Para isso, produziria, no Brasil, um carro de grande volume. A aposta, à época, era o Yaris.

 

10% é um número que colocaria a Toyota, se não entre as quatro grandes, pelo menos no quinto lugar, brigando diretamente com a Ford.

 

O tempo passou e a Toyota percebeu que o Yaris jamais seria um carro com volume suficiente para conquistar os 10% planejados. O Yaris é rival do Honda Fit. O Honda Fit é caro, não concorre com carros de entrada.

 

Aí a Toyota apostou na linha Etios, hatch e sedã, e ergueu até nova fábrica, exclusiva para a gama. Errou feio. O carro, de origem indiana, é feio. Mas a Toyota achou que tudo bem, porque a credibilidade da marca no Brasil é tão grande que o brasileiro não se importaria com aparência. Compraria a essência: um Toyota de entrada, barato em relação aos concorrentes, com boa mecânica e o consagrado pós­venda da marca, que desperta encantamento em seus clientes.

 

Errou

 

O brasileiro gosta de carro bonito. E nem a credibilidade da Toyota foi suficiente para encantar o consumidor.

 

Lançado em 2012, o Etios teve vendas pífias desde então. Até agora. Isso porque a Toyota foi resolvendo outras falhas do carro. Além de feio, ele tinha soluções jurássicas: ausência de retrovisores externos elétricos, painel de instrumentos tosco e até abertura da porta por meio de chave no miolo.

 

Quatro anos depois, o visual controverso permanece, mas as demais falhas foram resolvidas – ou, ao menos, amenizadas. Além disso, quatro anos é tempo suficiente para ganhar boa fama. Isso porque os poucos que compraram o Etios não querem sair do Etios – a não ser os consumidores que evoluíram financeiramente e passaram a ser clientes de Corolla.

 

Os clientes do Etios experimentaram o pós­venda da Toyota – e gostaram. Além disso, desde os primórdios, mecanicamente o modelo é excelente. Por fim, junto com as mudanças que o tiraram da “era jurássica”, veio também o câmbio automático.

 

A Toyota acertou na estratégia. Em vez de fazer como as outras marcas, que colocam as transmissões automáticas só em versões de topo, a japonesa a oferece em todas as versões do Etios. Com isso, ele tornou­se, a partir de R$ 47.770.

 

Com essas mudanças, a resposta em vendas foi imediata. Desde o segundo trimestre, o Etios vem escalando o ranking e, em julho, o hatch ficou na décima segunda posição entre os mais vendidos do Brasil. O sedã também está no “top 20″.

 

E, assim, a Toyota virou uma das quatro grandes. Em julho, teve 16.855 unidades vendidas, atrás de Chevrolet, Fiat e Volkswagen, respectivamente.

 

No acumulado dos quatro primeiros meses do ano, a Toyota é quinta, cerca de 10 mil unidades atrás da Hyundai – e seu bem sucedido HB20. Aqui, vale dizer: a Ford, que tem uma linha excelente, mas sempre “derrapou” no marketing, já perdeu há alguns meses o status de integrante do grupo das quatro grandes, no contexto da corrida maluca do ranking da indústria automobilística.

 

É claro que a Toyota no clube das quatro grandes não é mérito só do Etios. O “Corollão”, que eu não acho um bom carro, mas o consumidor acha (), está sambando na cara da concorrência.

 

Além de vender mais que todos os outros sedãs médios juntos, o Corolla está há meses e meses na lista dos dez carros mais emplacados do País. Reflexo da crise: os clientes do segmento de entrada enfrentam a realidade da redução de seu poder aquisitivo e da dificuldade de conseguir financiamentos com taxas baixas e prestações que cabem no bolso.

 

Assim, os carros mais baratos do País estão perdendo espaço no ranking, possibilitando o crescimento na participação de mercado de modelos mais caros, como o Corolla.

 

A Toyota foi, em julho, a marca certa no contexto certo. E entrou no clube das quatro grandes. Mas, será que ela se mantém?

 

Minha aposta: sim. O crescimento do Etios tem sido progressivo. É possível que, no próximo mês, ele entre no “top 10″ do ranking de vendas. Além disso, a nova geração do Civic, que poderia ser uma grande ameaça ao Corolla, chegará ao mercado cara demais.

 

Façam suas apostas: a Toyota vai se consolidar no grupo das quatro grandes? (O Estado de S. Paulo/Rafaela Borges)