Preferência do brasileiro por veículos usados salta para 83,1%

O Estado de S. Paulo

 

Com o cenário ainda pouco favorável à compra do veículo novo, a preferência dos brasileiros por veículos usados continua crescendo, mostram dados divulgados nesta terça-feira pela Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). No acumulado de janeiro a julho deste ano, a participação de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus usados no mercado total foi de 83,1%, acima dos 79,3% observados em igual período do ano passado.

 

De 2010 a 2012, quando o mercado de veículos experimentou três anos seguidos de recorde nas vendas, os usados representavam 71% das unidades comercializadas. Dali em diante, a inadimplência avançou e os bancos ficaram mais rigorosos na hora de conceder crédito para a aquisição de veículos novos. Com a chegada da crise econômica, em 2015, houve aumento do desemprego e redução no poder de compra dos brasileiros.

 

Esses fatores reprimiram a demanda por veículos novos, que enfrenta quedas consecutivas desde 2013. Enquanto isso, o mercado de usados continuou crescendo. Só parou de avançar em 2015, quando praticamente ficou estável em relação a 2014, com uma queda de 0,75%. Na mesma comparação, os veículos novos tiveram retração de 26,5% no mesmo período, o maior tombo anual em 27 anos. O resultado disso é que a participação de usados cresce initerruptamente desde 2013.

 

Em 2016, o mercado de usados também cai, mas em ritmo menor que o mercado de novos. Enquanto o primeiro recuou 3,64% no acumulado de janeiro a julho, para 5,730 milhões de unidades, o segundo tem queda de 24,68%, para 1,164 milhão de unidades. Significa que, no período, a cada veículo novo comprado pelos brasileiros, cinco usados saíram das concessionárias. Em 2012, essa relação era a metade, de um novo para 2,5 usados.

 

O presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção, explica que, além dos fatores que reprimiram a demanda por veículos novos, as concessionárias passaram a dar uma maior atenção aos usados. A situação melhor dos usados, no entanto, não é suficiente para trazer um alívio às finanças das revendedoras. Segundo Assumpção, os usados representam apenas 15% da geração de negócios de uma concessionária, enquanto os novos correspondem a 60%.

 

O executivo, porém, vislumbra uma melhora do mercado de novos para os próximos meses, impulsionada pela estabilização do ambiente político. “Temos a clareza forte de que o período de interinidade (do governo Temer) está próximo do fim”, disse Assumpção, na expectativa de que o Senado aprove o afastamento definitivo de Dilma Rousseff. Além disso, julho apresentou a terceira alta mensal seguida na venda de veículos novos, de 5,59% em relação a junho. “O pior já passou”, afirmou Assumpção. (O Estado de S. Paulo/André Ítalo Rocha)