Consumidor abre mão do “cheiro de carro novo”

O Estado de S. Paulo

 

Nos últimos 14 anos, Fernanda Moraes, sócia de uma agência de eventos em São Caetano do Sul, no ABC paulista, teve cinco carros adquiridos novinhos. Neste mês, ela preferiu comprar um Hyundai Tucson 2012 e economizou R$ 21 mil em relação ao preço da versão zero.

 

“Usei o dinheiro que tinha disponível no momento”, diz. “E uma das vantagens é que o carro ainda está na garantia até 2017”. Fernanda pretende trocar novamente de carro no próximo ano, por outro seminovo.

 

“Por insegurança, o consumidor está abdicando do ‘cheiro do carro novo’ e procura um seminovo, a preços 20% a 25% mais baixos”, diz Henning Dornbusch, presidente da Eurobike, especializada em veículos de luxo. Até há pouco tempo, 15% da receita do grupo vinham da venda de seminovos, participação que este ano subiu para 22%.

 

A revenda Amazon, da marca Volkswagen, paga pelo seminovo utilizado na troca por outro carro em média 10% a mais em relação ao que pagaria em épocas de mercado mais aquecido. “A bola da vez são modelos 1.0 mais completos, que ficam pouco tempo na loja”, informa Marcos Leite, gerente da Amazon.

 

Antes da crise se aprofundar, a concessionária vendia, em média, 100 carros novos e 50 usados por mês. Hoje, são 70 novos e 60 usados e a tendência é essa proporção aumentar mais. “Muitos clientes estão adiando a compra do veículo dos sonhos e pegam o usado”, diz Leite.

 

Na Sorana Toyota, na região norte da capital, a venda de usados “está contrabalançando as finanças”, afirma o gerente Carlos Sakamoto. Para captar modelos usados, a loja oferece descontos de R$ 2 mil no Etios novo e também valoriza o preço do carro utilizado na troca.

 

On-line

 

No mercado online também há mais demanda que oferta. A WebMotors, maior site de venda de carros do País, registrou nos últimos 12 meses alta de 74% no volume de seminovos em estoque, enquanto a procura (proposta enviada ao vendedor) aumentou 78%. “Os dois índices cresceram bastante, mas o interesse pelo modelo à venda está maior que a disponibilidade”, afirma o presidente da empresa, Rodrigo Borer.

 

Segundo ele, “em razão da queda do poder aquisitivo e da restrição ao crédito, quem compraria um zero migra para o seminovo. E quem tem o seminovo não troca pelo zero, gerando a escassez”. A WebMotors mantém média de 330 mil anúncios e atua no País há 21 anos. Neste mês, mudou o modelo de cobrança. Antes, cobrava o anúncio. Agora, cobra também o repasse ao vendedor da ligação ou do e-mail de interessados no carro, independente de o contato gerar negócio. O valor varia de R$ 10 a R$ 40 por repasse, dependendo do valor do veículo. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)