Mercado de moto deve recuar quase 17% neste ano

DCI

 

O setor duas rodas revisou a projeção para 2016 e as vendas devem recuar 16,7%, para 1,02 milhão de unidades. Sem um horizonte de retomada, montadoras e fabricantes da cadeia produtiva continuam demitindo, movimento que deve persistir ao longo do ano.

 

O número de demissões ainda não está fechado, mas o corte mínimo deve ser de 2 mil empregos em relação a 2015, revelou nesta terça-feira (12) a Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas e Bicicletas (Abraciclo).

 

“Se o ritmo atual de vendas for mantido, certamente o emprego na indústria vai diminuir ao longo do ano”, declarou o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian.

 

De acordo com dados do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), o segmento duas rodas – que abrange montadoras, fornecedores de autopeças e insumos – representa cerca de 30% da mão de obra do Polo Industrial de Manaus (PIM), com pouco mais de 24 mil postos de trabalho.

 

“A queda da atividade econômica acentuou a retração que o mercado de motos já vinha registrando nos últimos anos”, disse em entrevista ao DCI o presidente do Cieam, Wilsom Périco.

 

Para 2016, a Abraciclo projeta um nível do emprego entre 12 mil e 14 mil postos de trabalho nas montadoras, sobre os 16,1 mil do ano passado. “A decisão de ajuste de mão de obra vai depender de cada associada. Tem toda uma questão social envolvida”, diz Fermanian.

 

Ele avalia que o setor necessita de estabilidade política para continuar avançando. “A confiança do consumidor precisa melhorar”, pondera.

 

Segundo ele, o crédito continua restrito, mas a esse fator se soma a queda da demanda por motos. “Concessionárias têm reportado redução importante do fluxo nas lojas. A onda de desemprego tem reduzido a intenção de consumo.”

 

Fermanian acrescenta que o nível de aprovação de crédito gira em torno de 15% a 20%, o que dificulta o aumento das vendas.

 

“O maior volume de financiamentos, atualmente, vem de montadoras que possuem bancos próprios”, revela.

 

No primeiro semestre do ano, a produção de motos recuou 33,4% em relação ao mesmo período de 2015. Já as vendas no atacado – para concessionárias – e os emplacamentos tiveram uma queda mais branda, ainda assim bastante significativa.

 

“Nosso grande desafio é manter a produtividade diante do cenário”, avalia o presidente da Abraciclo.

 

A entidade revisou para baixo suas projeções. No início do ano, a expectativa era de estabilidade para 2016, entretanto, com a deterioração do cenário, agora a previsão é de uma retração acima de 16% das vendas e de 13% da produção.

 

“As exportações têm mostrado sinais de recuperação, mas longe de podermos chamar de um crescimento”, acrescenta.

 

Segundo a Abraciclo, as vendas ao exterior tiveram alta de 70,7% no primeiro semestre, para 31,1 mil unidades. “Esse desempenho se deve basicamente à recuperação do mercado argentino, ainda o mais importante para a indústria brasileira no segmento duas rodas”, pondera Fermanian.

 

O dirigente observa ainda que os números positivos do mercado externo não devem ser suficientes para frear a queda do emprego. “Neste ano, ainda não vamos conseguir sentir os efeitos do aumento das vendas externas. O crescimento só deve se refletir a partir do ano que vem.”

 

Segundo projeção da Abraciclo, as exportações devem ter um aumento de 1,3% neste ano, para 70 mil unidades.

 

Retomada

 

Para o presidente do Cieam, é difícil prever uma retomada diante das incertezas políticas. “Enquanto não houver uma definição do governo, não vamos conseguir fazer uma projeção assertiva”, diz Périco.

 

No entanto, ele acredita que se o cenário atual for mantido, com o nível de confiança de hoje, o mercado duas rodas caminha para uma piora. “O desemprego continua alto, ninguém sabe se vai continuar empregado”, pondera.

 

Na avaliação dele, uma retomada gradual só deve vir a partir do segundo semestre de 2017. “A recuperação da economia e do mercado de motos depende do resgate da confiança, o que passa pela manutenção do governo em exercício”, considera.

 

Périco revela que os fornecedores da cadeia de motocicletas estão fortemente estocados. “Quando a demanda por motos voltar a crescer, a produção dos fabricantes só deve avançar após as empresas desovarem os estoques”. (Juliana Estigarríbia)