SUV e picapes suavizam quedas e reconfiguram mercado local

DCI

 

O mercado automotivo brasileiro está mudando. Compactos de entrada perdem participação nas vendas enquanto utilitários esportivos (SUVs) e novos conceitos de picapes crescem de forma expressiva.

 

Montadoras que estiverem atentas a essa nova configuração podem tomar a dianteira no cenário árido que ainda deve persistir nos próximos anos. A chave do sucesso, entretanto, depende de um misto de custo-benefício e design, um dos atributos mais importantes para o consumidor brasileiro.

 

“As montadoras estão concentrando esforços em lançamentos de modelos de maior valor agregado, principalmente SUVs urbanos. Apesar dos chamados carros populares ainda representarem o grande volume do mercado, o público que mais troca de carro está na faixa de maior poder aquisitivo”, avalia o consultor Wladimir Molinari, da Route Automotive.

 

Prova disso é o sucesso de montadoras como a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), que já colhe os frutos de lançamentos recentes e bem-sucedidos.

 

Após emplacar no ano passado o SUV de entrada Renegade (Jeep), que em pouco mais de um mês se tornou um dos mais vendidos da categoria, agora é a vez da picape Toro (Fiat).

 

“O segmento de picapes cresceu muito nos últimos anos, mas percebemos uma lacuna no mercado onde podíamos investir”, afirmou ao DCI o diretor de planejamento e estratégia de produto da FCA, Carlos Dutra.

 

A Toro caiu rapidamente no gosto do brasileiro. O lançamento oficial do modelo ocorreu em meados de fevereiro e, até o momento, Dutra revela que a fila de espera é de 60 a 90 dias nas concessionárias, mesmo diante da queda persistente das vendas de veículos no País.

 

“Temos um débito na produção de quase dois meses”, acrescenta. A Toro é produzida na planta da FCA em Goiana (PE), sob a mesma plataforma do Jeep Renegade. O modelo da Fiat visa atrair consumidores que querem picapes maiores do que as de entrada – como a Saveiro, da Volkswagen – e mais baratas do que as chamadas médias, como a S10, da GM.

 

Essa também foi a estratégia da Renault ao lançar, em 2015, a Duster Oroch, com o mote de custo-benefício. De janeiro a junho, o modelo figura como o sétimo comercial leve mais vendido do mercado brasileiro, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

 

Dutra destaca que não existe uma fórmula mágica para o sucesso no mercado automotivo. “Temos que investir onde há perspectivas de crescimento, além de lacunas. Nós vamos explorar diferentes áreas.”

 

Ele admite que a crise surpreendeu a todos e a conjuntura atual não é boa. “O mercado está muito pior do que imaginávamos dois anos atrás”, pontua. “Mas quando um lançamento inaugura uma categoria, como é o caso da Toro, a marca segue em vantagem”, complementa.

 

Nova configuração

 

Molinari, da Route, pondera que o mercado brasileiro vem passando por uma reconfiguração e que a faixa com maior índice de troca de veículos vai de R$ 70 mil a R$ 100 mil.

 

“As montadoras não querem perder esse mercado”, avalia o consultor, que atende as principais montadoras do País. Nessa faixa também está inserida a Honda, que escalou há pouco mais de um ano o ranking das montadoras com maior volume de emplacamentos no País, através do utilitário HR-V.

 

No primeiro semestre, a marca japonesa se tornou a sétima mais vendida do Brasil. “Os estoques da HR-V já estão estabilizados na rede, mas o modelo é o SUV mais vendido do País”, afirmou a montadora ao DCI.

 

No início da produção do HR-V, no ano passado, a Honda operou por certo período com horas extras para dar conta da alta demanda do modelo, enquanto concorrentes faziam paradas e decretavam férias coletivas diante da crise das vendas de veículos.

 

“A preferência do brasileiro pelo SUV urbano é muito grande. O design do HR-V e as linhas mais tradicionais do Renegade ganharam o consumidor no Brasil”, observa Molinari.

 

No acumulado do primeiro semestre, Jeep e Honda figuram entre as dez marcas mais vendidas graças aos seus SUVs, conforme dados da Fenabrave.

 

Fórmula do sucesso

 

O perfil do consumidor vem mudando ao longo dos últimos anos, no País. O brasileiro está exigindo mais do que “carros pelados” e está disposto a investir um pouco mais para ter acesso a modelos de maior porte.

 

Nesse sentido, os SUVs de entrada e picapes de cabine dupla, como a Toro e a Oroch, ganharam espaço no mercado.

 

Dutra, da FCA, explica que o projeto definitivo da Toro foi aprovado no início de 2014, mas o desenvolvimento do modelo começou bem antes. “Na Fiat, temos a picape de entrada Strada, que é líder na sua categoria. Mas queríamos entender o que faltava nela e nos modelos médios para incorporar ao nosso novo carro”, revela.

 

O executivo conta que o objetivo era trazer a dirigibilidade do automóvel – e não de um caminhão – ao protótipo, além de agilidade e robustez. Segundo ele, a Fiat apostou em um modelo que não atraísse somente consumidores de picapes, que geralmente necessitam do veículo para trabalho. “Daí veio a ideia de fazer uma picape com cara de SUV”, salienta.

 

“Esperávamos que o produto fosse bom, mas para ser sincero, o resultado superou nossas expectativas”, revela o executivo.

 

Outro ponto forte da Toro, assim como outros sucessos recentes do mercado, é o design. “Trabalhamos muito nesse quesito, pois esse é o principal fator de atração do veículo.”

 

Além disso, as marcas têm apostado em modelos esportivos a diesel, com transmissão automática e outros atributos, como tração nas quatro rodas – conhecido como 4 x 4 – para atrair diferentes consumidores.

 

Dutra garante, porém, que a FCA vai continuar com foco no mercado de forma abrangente. “Só neste ano lançamos a Toro e o compacto de entrada Mobi e, mais para frente, teremos novidades”, relata o executivo.

 

Ele acrescenta que é natural que o mercado brasileiro passe por uma renovação constante. “Sempre vai existir aquele consumidor que quer realizar uma compra segura, com apelo mais tradicional. Mas está crescendo o número de brasileiros em busca de novidades, que apostam em inovação”, pondera.

 

Para Molinari, o consumidor com um pouco mais de poder aquisitivo está migrando dos sedãs para SUVs de entrada e picapes. “Mas as montadoras precisam oferecer custo-benefício para ganhar esses clientes”. (DCI/Juliana Estigarríbia)