UOL Carros
A Renault promete ser “ofensiva e contundente” para ampliar sua participação no mercado até a próxima temporada. Depois de passar anos na cola da Ford, “eternamente” brigando pelo quarto lugar em vendas, a marca francesa viu outra novata, a Hyundai, ganhar espaço, ultrapassar todas e liderar vendas no Brasil este ano. A saída para voltar a crescer é ter carro novo. A saída rápida e eficiente? Ter SUVs e picapes, febres do mercado.
Depois de lançar a intermediária Duster Oroch, que recentemente ganhou câmbio automático (a marca ainda estuda a adoção de tração 4×4), a Renault anunciou a picape média Alaskan e UOL Carros revelou que a marca prepara ainda o SUV grande Koleos. Mas não é só: o compacto Kwid também vai surfar essa onda.
“O Kwid levará a bandeira de ser o primeiro SUV do nosso comprador”, afirmou Olivier Murguet, presidente da Renault para Américas e chefão da marca no mercado brasileiro, em entrevista a UOL Carros e outros jornalistas presentes ao lançamento da Alaskan.
“Ele vai ter uma proposta diferente do que já existe, uma proposta de SUV pequeno”, apontou Murguet. “Não se trata, portanto, de um carro do segmento A”.
Por “carro do segmento A”, o leitor pode entender subcompactos como Volkswagen up! e Fiat Mobi. O que o executivo aponta, portanto, é que não vai vender o Kwid como carrinho, popularmente falando, mas como SUV. Vai vendê-lo como sonho de consumo.
A partir disso, podemos esquematizar a nova linha da Renault, destacando em negrito modelos com “pegada de SUV” e utilitários esportivos reais:
– Kwid (Salão de SP)
– Logan/Sandero/Sandero Stepway/Sandero RS
– Fluence
– Duster/Duster Oroch
– Alaskan (2018)
– SUV não revelado (apostamos no Captur esticado)
– Koleos (2017)
Será que isso o Kwid custar caro?
Murguet afirmou que conhece os erros cometidos por Volks e Fiat: up! e Mobi não decolam (as marcas negam fracasso, mas nenhum dos modelos está vendendo o que foi anunciado nos respectivos lançamentos) não por serem pequenos ou com visual pouco atraente, mas por serem mais caros do que clientes e especialistas esperavam. A Renault promete cobrar pelo Kwid o que o mercado espera, “nem mais caro, nem mais barato”.
Isso significa, na prática, ter preço inicial pouco abaixo do patamar psicológico dos R$ 30 mil (mesmo que por diferença ínfima).
Inseguro?
Se a Renault garante que o Kwid será o “sucessor espiritual” do Clio, em termos de preço, mas se também promete que o novo modelo terá outro status, como fechar a conta? Na Índia, onde o modelo foi desenvolvido, a marca apelou à insegurança, aproveitando a deixa daquele mercado, que praticamente não cobra sobrevivência dos ocupantes em caso de acidentes.
Nos testes do NCAP asiático, o Kwid naufragou de forma horrenda: zerou e provocou cenas lamentáveis no crash test. É isso que veremos aqui no Brasil?
Novamente, a Renault afirma ter outro conceito: o Kwid que já está sendo fabricado em São José dos Pinhais (PR), como mostrou flagra publicado em abril, “terá nível diferente de segurança e será benchmark (referência) no setor”, apontou o executivo. Tudo será mostrado no Salão do Automóvel, em novembro.
Além do nível mais preciso de fabricação, Murguet afirmou que o modelo nacional terá quatro airbags (dois frontais obrigatórios e mais dois laterais), freios com ABS e EBD (também obrigatórios no Brasuil), além de barras de proteção lateral nas portas.
Nada foi dito sobre tecnologias extras, como controle de estabilidade (presente no Ford Ka, exemplo entre os compactos), ou mesmo sobre se o Kwid local terá apenas três parafusos de fixação em cada roda de 13 polegadas, como ocorre com o carro indiano.
Ainda na Índia, apenas a versão mais cara do Kwid (que custa 368 mil rúpias, equivalente a R$ 18 mil) traz airbag, e mesmo assim apenas para o motorista.
Como é um SUV pequenino?
Lembra do conceito Taigun, suvinho mostrado pela Volkswagen no Salão de SP de 2012, mas depois abandonado? Essa é a ideia por trás do Kwid.
Dimensões do Kwid nacional devem se manter próximas, praticamente idênticas, àquelas do Kwid indiano. São 3,67 metros de comprimento, com 1,58 m de largura, 1,47 de altura e 2,42 m de entre-eixos.
Traduzindo: o Kwid é bem maior que o Mobi e mais comprido que o up!, tendo o mesmo espaço entre-eixos do modelo da Volks. Por outro lado, é mais estreito e baixinho que a configuração cross up!, considerando apenas a carroceria. A vantagem do Kwid é ter vão livre para o solo mais elevado, com 18 centímetros, bem como arquitetura diferente de bancos.
Haverá novidade no painel de instrumentos (a Renault não abre o jogo, mas trata-se de conjunto único, dominado por mostrador digital com indicações grandes, como no Chevrolet Onix, por exemplo), mas o padrão de plásticos será espartano, óbvio, para reduzir custos e chegar ao preço ideal.
Inédito, mesmo, será a motorização: o Kwid estreia nova especificação de 3-cilindros. A família é a mesma de Nissan March e Versa, mas menos potente, já que o Kwid é menor e mais leve. Enquanto os modelos da Nissan usam o 1.0 de 77 cavalos com etanol (que em breve estreará também em Logan e Sandero), o Kwid usará o 1.0 com 72 cv de potência.
Nada de 0.8 com 54 cavalos como na índia. Mas a ideia, também aqui no Brasil, é ser campeão de consumo e eficiência, rótulo que já foi do Clio (pelado, sem ar, nem direção assistida). (UOL Carros/Eugênio Augusto Brito)