O setor de veículos mostra leve reação

O Estado de S. Paulo

 

A queda vertiginosa da produção e das vendas de veículos, de 21,2% e 5S,4%, respectivamente, entre os primeiros semestre de 2015 e 2016, impõe limites ao otimismo que pode ser propiciado pela pequena reação entre maio e junho, de 4,2 na produção e de 2,6 nos licenciamentos, exibida na Carta da Anfavea, a associação das montadoras. Mas o presidente da entidade, Antonio Megale, notou que “o mercado parece ter encontrado seu piso”. A questão é saber quando começará a retomada.

 

O setor automobilístico é um dos carros-chefes da produção industrial. O forte recuo do segmento nos últimos anos foi, portanto, decisivo para agravar a situação da indústria brasileira. A produção de 3,7 milhões de veículos em 2013 caiu para 3,1 milhões em 2014, para 2,4 milhões em 201S e deverá ser próxima de 2 milhões neste ano – no primeiro semestre, mal superou 1 milhão.

 

Os efeitos negativos sobre o mercado foram amplos, alcançando investimentos, fornecedores de autopeças e revendedoras, recolhimento de tributos e pessoal empregado. Quase 30 mil vagas nas montadoras foram cortadas entre junho de 2013 e junho de 2016, de 156,5 mil para 127,7 mil, sem contar milhares de pessoas em regime de lay-off (suspensão temporária de contratos de trabalho) ou incluídas em mecanismos temporários de preservação do emprego .

 

Em junho, foram suprimidas 244 vagas e, em 12 meses, 9.163 postos de trabalho. As contratações estão, em geral, circunscritas a fábricas mais modernas que exportam parte da produção. Segundo Megale, ainda há excesso de pessoal.

 

A recuperação depende das montadoras e revendedoras, que têm de baixar preços para tomar os veículos mais acessíveis, mas também de financiamento – hoje, pouco mais da metade dos veículos (51,2%) é vendida a crédito, porcentual pequeno num mercado de bens de alto valor. Juros elevados e exigências bancárias restringem os financiamentos. A tributação sobre os veículos também é muito elevada, mas é improvável uma queda de alíquotas dada a gravidade da crise fiscal.

 

Especialistas acompanham no dia a dia os números de licenciamentos para detectar alguma reação. Com a queda do dólar, é provável a melhora nas vendas de veículos importados, que caíram mais do que as de nacionais. Mas, com o desemprego e a queda da renda, o mercado tende a depender demais das vendas de veículos usados. Ou de consumidores de alto poder aquisitivo. (O Estado de S. Paulo)