Folha de S. Paulo
Desde 2011, quando o governo federal criou o sistema de cotas e aumentou tributos, a importação de carros entrou em declínio no Brasil. Entre janeiro e março de 2016, as vendas do segmento encolheram 44% na comparação com o mesmo período de 2015, que não tinha sido grande coisa.
O problema atingiu em cheio a Kia Motors. A marca sulcoreana vendeu apenas 2.055 carros no primeiro trimestre deste ano. Em 2011, foram 17 mil emplacamentos no mesmo período. Para tentar se reerguer, a empresa espera a chegada dos carros produzidos no México.
“Queríamos produzir carros no Brasil, mas a questão da Asia Motors (exmarca ligada à Kia, que deve cerca de R$ 2 bilhões ao governo federal) nos prejudicou, e os parceiros sulcoreanos preferiram o México. Enquanto isso, importação e arrecadação tributária não param de cair aqui”, disse à Folha José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors do Brasil.
Livre comércio
Devido a um acordo comercial, os carros mexicanos chegam ao país isentos dos 35% de imposto de importação. O benefício é limitado a 4.800 unidades. Acima disso, há uma sobretaxa de 30 pontos percentuais em outro tributo, o IPI (imposto sobre produtos industrializados).
O rigor da legislação impede que a empresa repita o sucesso obtido em 2011, quando cerca de 77 mil unidades foram comercializadas no mercado nacional. Contudo, a isenção fiscal permite maior flexibilidade às importações, com recomposição das margens de lucro.
O primeiro mexicano a chegar será a nova geração do utilitário de luxo Sportage, com estreia prevista para junho. No mês seguinte, estreia a remodelação do sedã Cerato. A fábrica fica no estado de Nuevo Leon, região mais industrializada daquele país.
Felino
A grade frontal redesenhada segue o conceito “nariz de tigre” criado pelo designer alemão Peter Schreyer, o que ajuda a identificar o Sportage. Como costuma ocorrer com modelos sulcoreanos, as demais mudanças de estilo são uma ruptura radical em relação ao antecessor.
Os novos faróis foram colocados em uma posição mais elevada, solução semelhante à adotada pela Porsche em seus jipões de alto luxo.
Na lateral do Sportage, as janelas estreitas são emolduradas por frisos cromados. Atrás, lanternas com LEDs se integram ao porta malas com 503 litros de capacidade.
O modelo cresceu quatro centímetros em relação ao anterior, mas seus 4,48 m de comprimento não fazem dele um gigante. Para comparar, um Toyota RAV4 (a partir de R$ 121 mil) tem 4,57 m.
A cabine está mais espaçosa e com novos recursos de conectividade. O principal é a tela de sete polegadas sensível ao toque, com navegador GPS incorporado e compatível com smartphones. O equipamento traz os sistemas Apple Carplay e Android Auto, que podem ser comandados por meio de botões instalados no volante.
Em testes curtos realizados na França e no México, o Sportage agradou. A suspensão foi pensada para oferecer conforto na rodovia e ignorar buracos em estradas ruins, como manda a cartilha dos utilitários urbanos.
No Brasil, o motor 2.0 flex (178 cv) usado atualmente deverá ser mantido.
De acordo com o importador, os preços que serão praticados no Brasil ainda não foram definidos. A geração à venda atualmente custa a partir de R$ 106 mil, mas ainda é importada da Coreia do Sul.
O modelo mexicano terá benefícios fiscais, mas há outras questões envolvidas, como inflação e alta do dólar. O novo posicionamento de mercado só será conhecimento às vésperas do lançamento. (Folha de S. Paulo/Fernando Valeika de Barros)