O Estado de S. Paulo
Em suas viagens mensais à matriz no Japão, Steve St. Angelo, presidente da Toyota para a América Latina e Caribe, tem repetido uma frase com frequência aos chefes: “fiquem calmos”. O executivo afirma que há uma grande preocupação em relação ao momento econômico e político do Brasil, acompanhado com atenção pela direção mundial, mas “existe uma certeza de que o País vai se recuperar em breve”.
E quando a recuperação ocorrer, “estaremos prontos”, acrescenta o presidente da Toyota do Brasil, Koji Kondo. Prova da confiança, diz ele, é que a matriz manteve os investimentos no mercado brasileiro. A fábrica de motores em Porto Feliz (SP) será inaugurada oficialmente em maio, mas já iniciou operações para fornecer o equipamento para o novo Etios, versão 2017, que começará a ser vendido na próxima semana.
Foram contratados, inicialmente, 350 funcionários. Por enquanto, a única fábrica de motores do grupo na América Latina, considerada a mais inovadora do grupo no mundo por concentrar todas as etapas de produção no mesmo teto, recebeu R$ 500 milhões de investimentos, de um total de R$ 1 bilhão programado para uma capacidade plena de 200 mil unidades por ano. A linha começa com 70 mil a 90 mil unidades ao ano.
Outro investimento recémconcluído, de R$ 100 milhões, foi o da ampliação da capacidade da fábrica de Sorocaba (SP), onde é produzido o compacto Etios, de 70 mil para 108 mil unidades ao ano. Em razão da crise econômica, contudo, a nova capacidade instalada ainda não está sendo utilizada.
Única montadora que registrou aumento de vendas no primeiro trimestre, de 1%, num mercado total que caiu 28%, a Toyota espera vender este ano 68 mil unidades do Etios que, por fora, teve modificações quase imperceptíveis mas, por dentro, é um novo carro. Além de câmbio automático e painel mais arrojado, os motores 1.3 e 1.5 são mais potentes e em média 9% mais econômicos que o anterior.
“Promovemos as mudanças que os consumidores mais pediam”, informa St. Angelo. Quando foi lançado, no fim de 2012, o Etios foi criticado por ter interior pobre, acabamento ruim e não ter versões com câmbio automático. O câmbio manual tem seis marchas.
A versão mais barata custa R$ 43.990, R$ 2 mil mais cara que a atual, em razão das novas tecnologias, explica Miguel Fonseca, vicepresidente da Toyota. “Também introduzimos nova transmissão e itens de segurança”. A versão mais cara sai por R$ 60.295. O objetivo da marca é vender 68 mil unidades do modelo no mercado interno, ante 62 mil em 2015. As exportações devem saltar de 22 mil para 27,5 mil unidades, para Argentina, Paraguai e Uruguai. “Estamos estudando outros mercados da região, como o Peru”, afirma Kondo.
Fatia maior
A Toyota também é uma das poucas marcas que ganharam participação no mercado, de 5,6% em 2014 para 6,8% em 2015. No primeiro trimestre deste ano, a fatia em automóveis e comerciais leves já está em 8,6%, o que a ascendeu à quinta colocação no ranking das marcas que mais vendem, atrás de General Motors, Fiat, Volkswagen e Hyundai.
Única montadora a ter alta nas vendas, Toyota diz manter aposta no Brasil Junto com a fábrica de Indaiatuba (SP), onde é produzido o Corolla – atualmente o modelo mais vendido da marca –, a Toyota projeta para o ano produção de 160 mil veículos, um pouco abaixo dos 166 mil do ano passado, em razão do baixo desempenho do mercado automotivo no primeiro trimestre. Kondo prevê para o ano um mercado total de 2 milhões de veículos, ante 2,57 milhões em 2015.
A marca também é uma das poucas que não adotou medidas de corte de produção, como férias coletivas extras e layoff (suspensão temporária de contratos de trabalho). Até o fim do ano passado a fábrica de Indaiatuba operava com duas horas extras diárias de trabalho, mas este ano voltou à jornada normal.
A empresa estuda também novos produtos para o mercado brasileiro, como um utilitárioesportivo de pequeno porte. Para o longo prazo, a ideia é nacionalizar o Prius híbrido, hoje importado. Outra meta da empresa, segundo St. Angelo, é desenvolver produtos regionais a partir do centro de pesquisa e desenvolvimento que o grupo vai inaugurar em agosto na unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)