O Estado de S. Paulo
A indústria automobilística brasileira operou com apenas 38% de sua capacidade produtiva no primeiro trimestre. Foram produzidos 482,3 mil veículos, incluindo caminhões e ônibus, 27,8% a menos em relação a igual intervalo de 2015. Foi o pior desempenho para o período em 13 anos. A produção de máquinas agrícolas caiu 52%, para 7,3 mil unidades.
As montadoras eliminaram 1,3 mil vagas nos primeiros três meses do ano e mantêm 8.241 trabalhadores em layoff (com contratos suspensos) e 30.551 no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que reduz jornada e salários em até 30%, sendo que metade do corte salarial é bancada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Significa que 30% da mão de obra das empresas, hoje de 128,5 mil trabalhadores – equivalente ao quadro de 2010 –, tem alguma restrição no trabalho, segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan. Até o fim do ano novos cortes devem ocorrer.
Só no mês passado foram fabricados 195,3 mil veículos, queda de 23,7% comparado a março de 2015. Em relação ao mês anterior houve alta de 42,6%, mas porque fevereiro teve menos dias úteis. As vendas no trimestre foram as mais baixas para o período desde 2006, e 28,6% inferiores aos números de igual período de 2015, com 481,3 mil unidades.
“Esperávamos uma melhora em março que não ocorreu por conta do agravamento da crise política que continua acentuando seu prejuízo à economia”, diz Moan. “Em dias de manifestação, por exemplo, há lojas que não receberam um visitante”.
Segundo Moan, em razão da falta de confiança dos consumidores, que temem o desemprego, as vendas a prazo representaram 51,4% dos negócios do setor em março, a menor participação da série histórica da entidade para esse dados, iniciada em 2005. Tradicionalmente, mais de 60% das vendas de carros novos eram financiadas.
Além do receio do consumidor em fazer uma dívida de longo prazo, o crédito está mais caros e os bancos mais restritivos. “Os bancos estão liberando empréstimos só para clientes históricos”, afirma Moan.
Os estoques nas fábricas e concessionárias continuam elevados. No fim de março havia 259 mil veículos encalhados, o equivalente a 43 dias de vendas. Em fevereiro, eram 246,3 mil unidades, ou 41 dias de vendas.
“Enquanto os agentes (políticos) não pararem para pensar no Brasil, a tendência é cada dia piorar”, alerta o presidente da Anfavea.
Exportações
O único dado positivo no balanço da Anfavea continuam sendo as exportações. No trimestre, as vendas externas cresceram 24%, para 98,9 mil unidades. Em valores, ainda há uma queda de 7,6% (US$ 2,24 bilhões) em razão do mix de exportação, mas a tendência, na visão de Moan, é de uma reversão positiva nos próximos meses.
Há grande expectativa no setor em relação a um contrato de 192 mil veículos com o governo do Irã. Nas próximas duas semanas representantes do país virão ao Brasil para se reunir com a Anfavea, montadoras e governo brasileiro para detalhar suas necessidades.
Outros países disputam o contrato, que envolve 140 mil automóveis, 35 mil caminhões e 17 mil ônibus. Segundo Moan, na América Latina apenas o Brasil foi procurado pelos iranianos. Até agora, 12 montadoras instaladas no País manifestaram interesse em participar da concorrência.
Nova direção
Moan deixará o cargo no dia 25, após um mandato de três anos à frente da entidade, e será substituído por Antonio Megale, diretor da Volkswagen.
Também ocorreram mudanças neste ano no comando da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), que volta a ser presidida por José Luiz Gandini, representante da coreana Kia Motors e da chinesa Geely no Brasil, em substituição a Marcel Visconde, da Porsche.
Gandini tomou posse na terçafeira e disse que uma de suas metas será convencer o governo a rever a taxação extra de 30 pontos porcentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados, em vigor desde o fim de 2011.
Naquele ano, foram vendidos 199 mil veículos importados no País, número que caiu para 59 mil em 2015. Além da sobretaxa, os importados estão mais caros em razão da desvalorização do real frente ao dólar.
Outra entidade do setor automotivo que tem novo presidente é o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Desde o mês passado, está à frente da entidade o presidente do conselho de administração do Grupo Iochpe-Maxion, Dan Ioschpe. Ele substituiu Paulo Butori, que presidiu a entidade por 22 anos. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)