Aporte atraído pelo Inovar-Auto só atingiu parte da cadeia, diz Sindipeças

DCI

 

Os investimentos trazidos pelo novo regime automotivo não atingiram todos os níveis da cadeia, afirmou o conselheiro do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Paulo Butori.

 

“O Inovar-Auto foi um grande erro que o Brasil cometeu. Criamos um problema sério de ociosidade no País”, disse o dirigente, durante o fórum Automotive Business, nesta segunda-feira, na capital paulista.

 

Diante da forte queda nas vendas de veículos, Butori acredita que o setor de autopeças ainda possa demitir cerca de 16 mil funcionários neste ano. “Para 2016, as demissões podem ficar entre 5% e 10% do efetivo”.

 

O Inovar-Auto teve início em 2012 e concede benefícios para montadoras que, entre outros requisitos, cumprem o índice mínimo de conteúdo local de 60%.

 

“Não houve localização de componentes. O programa custou caro para as fabricantes de autopeças e não resolveu absolutamente nada”, destacou Butori.

 

No entanto, o diretor de compras América Latina da PSA Peugeot Citroën, Antonio Carlos Vischi, revelou que o grupo irá elevar o nível de conteúdo local dos atuais 65% para 85% até 2018.

 

“Para isso, temos reservado 70 milhões de euros para localização de peças”, garantiu.

 

Carlos Vischi admitiu, entretanto, que o principal fator que impulsiona a localização de componentes é o câmbio. “O Inovar-Auto traz diversos benefícios à cadeia, mas o que pesa mais na decisão de localizar peças é o dólar”, complementou o executivo.

 

O diretor de compras da Mercedes-Benz no País, Erodes Berbetz, partilha do mesmo posicionamento. “Sem dúvida, a mola propulsora da nacionalização de peças é o câmbio”, acrescentou o executivo.

 

Representantes de montadoras afirmam que as compras de peças, neste ano, não vão crescer. “Vamos ter estabilidade neste ano, após uma queda de 35% em valores [reais] em 2015”, pontuou Berbetz.

 

Montadoras

 

Entre as críticas ao Inovar-Auto, Butori reforçou que os investimentos das montadoras em novas fábricas e aumento de capacidade instalada contribuíram para elevar a ociosidade. “Criamos um problema grande no País. Diversas marcas investiram sem ganho de escala. É um caos”, declarou.

 

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) estima que a ociosidade nas montadoras gira em torno de 46%, hoje.

 

O efeito em cadeia é imediato. Segundo Butori, cerca de 37 fabricantes pediram recuperação judicial e algumas empresas já decretaram inclusive falência. “As autopeças estão doentes há muito tempo. E a queda das vendas de veículos só aprofundou a crise.”

 

Ele acrescenta que os aportes do setor vêm caindo ano a ano. “As empresas passaram a investir menos desde meados de 2008.” Os investimentos das fabricantes devem somar US$ 575 milhões em 2016, queda de 7,6% em relação ao ano passado. Já a estimativa do Sindipeças para o faturamento é de uma queda de 17,9% em dólares e alta de 1,3% em reais.

 

Vendas

 

De acordo com a Anfavea, a ociosidade média em veículos pesados chegou a 82% no primeiro bimestre do ano.

 

A MAN Latin America, fabricante dos caminhões Volkswagen e líder de emplacamentos, projeta uma queda de quase 30% das vendas em 2016, para cerca de 55 mil unidades. “O desempenho do mercado no primeiro trimestre foi muito fraco e não enxergamos uma retomada ao longo do ano”, disse o vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da Volks, Ricardo Alouche.

 

Já a Scania está mais comedida em sua previsão para o ano. “Em 2016, trabalhamos com uma projeção de queda do mercado brasileiro em 10%”, afirma o diretor de vendas de caminhões da Scania do Brasil, Victor Carvalho.

 

No entanto, alguns executivos acreditam que a indústria pode levar até dez anos para retornar aos níveis de vendas verificados em 2011, quando houve emplacamento recorde de 170 mil unidades. (DCI/Juliana Estigarríbia)