Montadoras e “startups” correm para criar carro autônomo

The Wall Street Journal

 

A proposta da General Motors Co. de comprar a pequena Cruise Automation Inc. por mais de US$ 1 bilhão será, se concretizada, uma das maiores aquisições feitas por uma empresa do setor automobilístico no Vale do Silício até hoje. E certamente não será a última.

 

Nos últimos anos, montadoras e fabricantes de autopeças vêm se unindo a “startups” de tecnologia para ampliar a conectividade de seus veículos e acelerar o desenvolvimento de carros autônomos. A região da Baía de San Francisco já está cheia de operações do setor automobilístico financiando ou recrutando engenheiros para poder acompanhar o ritmo da Google X, da Alphabet Inc., e de outros que estão desenvolvendo carros autônomos.

 

Carol Reiley, presidente de direção autônoma da startup Drive.ai, disse que sua empresa, que assim como a Cruise Automation e a Zoox vem operando discretamente, acabou de captar US$ 12 milhões em financiamento de investidores de capital de risco. Segundo ela, a compra da Cruise pela GM está fazendo esses investidores começarem a notar o trabalho de empresas como a dela e o negócio pode ter um grande impacto nos investimentos em startups de direção autônoma.

 

Consultores da PricewaterhouseCoopers LLP estimam que as fusões e aquisições entre fornecedores do setor automobilístico em 2015 atingiram quase US$ 50 bilhões, mais que o triplo de 2014. A necessidade da indústria de se aprimorar no setor está impulsionando investimentos.

 

As empresas do setor automobilístico “estão correndo para melhorar a tecnologia de motores para satisfazer os padrões de de combustível impostos pelo governo e a demanda dos consumidores por carros mais conectados e com recursos de direção autônoma”, informou a consultoria em relatório de janeiro.

 

A IHS Automotive, provedora de dados e prognósticos do setor automobilístico, prevê que as vendas anuais de carros semiautônomos e autônomos chegarão a 21 milhões de unidades em até 20 anos. Os carros semiautônomos podem ser pilotados, já os autônomos não têm controles de direção aos usuários.

 

“Toda essa transição para o carro autônomo e as companhias envolvidas estão pegando fogo”, diz Mark Platshon, consultor sênior de investimentos da BMW i­Ventures, fundo de investimento de capital de risco da alemã BMW AG. “Um bilhão de dólares é barato para garantir que você esteja no jogo”.

 

Empresas interessadas em adquirir tecnologias para carros autônomos podem encontrar muitos alvos potenciais. Entre eles estão a Zoox Inc., que está construindo um táxi­robô com design futurista; a nuTonomy, que ensina carros autônomos a planejar sua locomoção; a Nauto, que está desenvolvendo recursos de rede e de segurança automotiva; e a Drive.ai, que está criando inteligência artificial para o controle de veículos autônomos.

 

A Zoox, sediada em Palo Alto, na Califórnia, é mais reclusa do que a Cruise Automation. Seu website tem apenas um botão para o envio de e­mails a uma caixa postal genérica. A empresa, diz Platshon, está em uma fase mais avançada no desenvolvimento de tecnologias para carros autônomos do que a Cruise. Mas talvez a Zoox não esteja com pressa de ser vendida. Seu fundador, Tim Kentley­Klay, disse sobre o tema: “A Zoox nasceu para ser pioneira em automação de nível 4, não para ser vendida”. O nível 4 de automação se refere ao veículo que pode se locomover sem controle humano em todas as situações.

 

Se a Zoox continuar independente, há outros alvos de aquisições no Vale do Silício e fora dele. A nuTonomy, que nasceu no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), está trabalhando num software que ensina carros autônomos a planejar sua movimentação. Recentemente, ela recebeu US$ 3,6 milhões de fundos de investimento de capital de risco. A empresa está trabalhando no piloto de um veículo autônomo em Cingapura.

 

Outras startups como a Nauto e a Drive.ai podem atrair maior interesse das montadoras. “Enquanto algumas das grandes procuram como montar uma equipe de melhor calibre rapidamente, algumas podem explorar aquisições”, diz Platshon.

 

A GM não confirmou o valor de US$ 1 bilhão da aquisição. Mas qualquer número próximo representaria um prêmio robusto para a Cruise Automation, uma firma com 40 funcionários e ainda sem um produto sequer.

 

Avaliada em cerca de US$ 90 milhões em uma rodada de captação de US$ 20 milhões há cerca de seis meses, a empresa tinha planejado vender tecnologia para permitir que donos de Audis adaptassem seus carros com tecnologia de direção autônoma. Mas o plano foi cancelado e seus engenheiros voltaram sua atenção para um projeto ainda não revelado.

 

Reilly Brennan, que lidera o Revs, o programa automobilístico avançado da Universidade Stanford, dize que a Cruise Automation tem conhecimento profundo sobre “visão computadorizada” e pode ter descoberto uma maneira inovadora de analisar e utilizar o enorme volume de informações vindas dos sensores de carros autônomos.

 

“Esse conhecimento é francamente muito difícil de ser obtido”, diz ele. “O número de pesquisadores nesta área de automação de veículos é bem pequeno”. (The Wall Street Journal/Mike Ramsey)