Queda de 31% nas compras brasileiras preocupa Argentina

Folha de S. Paulo/Agência AFP

 

A queda no consumo brasileiro derrubou as vendas da Argentina para o Brasil e tornouse uma das maiores preocupações dos empresários do país vizinho.

 

Nos dois primeiros meses deste ano, o Brasil importou 31% a menos da Argentina na comparação com o mesmo período de 2015 –ano em que também houve desempenho fraco do comércio bilateral.

 

Em janeiro deste ano, 13,2% do exportado pela Argentina teve como destino os portos brasileiros. No mesmo mês de 2015, essa participação alcançava 18,9%.

 

Apesar do recuo, ainda não há outro mercado que tenha tanta importância comercial para a Argentina. O segundo e o terceiro maior parceiro em janeiro, atrás do Brasil, foram Chile e China, que compraram apenas 6% e 4% do total, respectivamente.

 

“A crise brasileira é um problema adicional para nossa economia, que já está em uma situação complicada por causa dos ajustes implementados pelo governo”, diz Gastón Rossi, da consultoria LCG.

 

O presidente Mauricio Macri, que assumiu o cargo em dezembro de 2015, vem tentando reduzir o deficit fiscal com cortes no gasto público, o que deverá resultar em uma retração do PIB neste ano. O FMI projeta recuo de 1%.

 

Veículos

 

A indústria automotiva é a que mais vem sofrendo por causa da crise no outro lado da fronteira. No primeiro bimestre, a produção argentina de carros diminuiu 27,1%, e as exportações, 42,4%.

 

Com exceção de Peru, Equador e Paraguai, todos os compradores de automóveis argentinos reduziram a demanda no período. O Brasil, porém, foi o grande responsável pelo recuo de mais de 40%, pois, sozinho, tem uma participação de 82,6% nas exportações do setor. Esse número foi, por muito tempo, superior a 90%.

 

Fábricas da Volkswagen e da Fiat reduziram suas produções, principalmente as de linhas que atendem o Brasil.

 

A alternativa que aparece para os argentinos é recorrer a outros países. O problema, segundo o economista Mariano Lamothe, da consultoria Abeceb, é que não há muitos outros mercados com tantos consumidores como o Brasil.

 

O economista Gastón Rossi lembra que não é simples conquistar clientela em locais ainda não explorados.

 

“Aconteceu com o Brasil quando o governo de Cristina Kirchner (2007­2015) passou a adotar medidas protecionistas. Os brasileiros não conseguiram encontrar rapidamente um parceiro que nos substituísse”, diz.

 

Em uma reunião realizada em fevereiro pela União Industrial Argentina (equivalente à CNI), a situação brasileira figurou entre os assuntos mais debatidos.

 

Além da redução da demanda, também preocupa a possibilidade de as indústrias do Brasil, com grande capacidade ociosa, invadirem o mercado argentino com seus produtos.

 

Enquanto a desvalorização do real tornou os itens fabricados no Brasil mais competitivos, a inflação argentina continua encarecendo as mercadorias do país. (Folha de S. Paulo/Agência AFP/Luciana Dyniewicz)