Carro novo ou usado: alguns fatores a considerar

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Carro novo ou usado, qual você prefere? Ora, nem precisaria perguntar: ninguém veria motivo em optar por um automóvel usado se pudesse ter um zero-quilômetro pelo mesmo valor. Mas, como sabemos, os custos são bem diferentes, de modo que se pode comprar um usado bastante superior – em categoria, equipamentos, motorização – ao novo pelo mesmo dinheiro. E agora, a decisão continua tão fácil assim?

 

Embora um tanto subjetiva e dependente de muitas variáveis, essa comparação é mais comum do que se imagina. Deixando de lado aqueles que não abrem mão do veículo sem uso (esses alegam que “a melhor marca de carro é novo”), um grande público ficaria em dúvida entre dois automóveis do mesmo preço, um com a vantagem de ser zero-quilômetro, outro superior em diversos atributos, só que de segunda (ou terceira, quarta…) mão. Para quem se vê diante dessa escolha, o que vale considerar?

 

A vantagem mais evidente do novo, claro, é não ter tido um dono anterior. Isso traz tranquilidades diversas, a começar que todos os componentes estão com o funcionamento previsto pelo fabricante e com plena vida útil pela frente. Os sistemas operam sem folgas, desgastes ou consequências de mau uso e o carro não passou por acidentes e reparos, que podem afetar desde a qualidade da pintura até a proteção anticorrosiva da carroceria e a resistência da estrutura em caso de colisões (sim, isso também precisa ser considerado). De resto, o comprador está livre de aborrecimentos com a procedência do carro, multas ou pendências.

 

Outras questões podem fazer maior ou menor diferença, de acordo com quem adquire o carro. Se a intenção é comprar um automóvel diferenciado – digamos que você adore um conversível “verde inglês de corridas” com interior bege -, as opções no mercado de usados podem ser tão restritas que acabarão por lhe impor a decisão: aceitar um veículo com imperfeições, não o melhor que aquele valor poderia comprar, ou deixar a preferência de lado e escolher entre os muitos sedãs brancos com interior preto. Existe também quem goste de escolher uma placa a seu gosto e, claro, não se pode desprezar o prazer de retirar da concessionária um carro imaculado e cheio de zeros no hodômetro.

 

Passado esse momento, o zero-quilômetro preserva suas vantagens por algum tempo. Defeitos costumam ser poucos nos primeiros anos e, sendo cobertos pelo período de garantia, você tende a ter menos incômodos e custos com aqueles que possam aparecer. Até cerca de 30 mil km, os custos de manutenção são baixos e raramente superam algumas centenas de reais a cada revisão obrigatória. Com isso, o carro novo pode ser mantido por alguns anos com grande confiabilidade e despesas moderadas de oficina.

 

Desvalorização: mais alta no início

 

Essa é a parte positiva de optar pelo zero-quilômetro. E a negativa, qual seria?

 

A primeira, como mencionado no começo do texto, é que você paga bem mais por um carro novo de mesmas características do usado ou, vendo por outro ângulo, leva um automóvel bem inferior pelo mesmo dinheiro. Vamos a alguns exemplos com valores aproximados: pelos R$ 35 mil de um Volkswagen Gol Trendline novo, com motor de 1,0 litro e ar fresco no rosto (de vidros bem abertos: com ar-condicionado custaria mais), você sai de Ford Fiesta S 1,5 2013. Com R$ 56 mil pode-se escolher entre um Chevrolet Onix LTZ 1,4 sem uso e um Honda Civic LXS 1,8 2013, ambos com transmissão automática.

 

Por R$ 80 mil há opções como um Renault Duster Dynamique 2,0 automático novo e um elegante BMW X1 18i 2012. E com R$ 102 mil leva-se para casa um Toyota Corolla Altis zerinho ou, por mais R$ 2 mil, um Audi A4 Ambiente 2,0 2015, ainda cheirando a novo. Portanto, o mercado de usados é a oportunidade para muitos de comprar o carro sonhado ou de usufruir doses maiores de conforto, desempenho, segurança e presença sem se arriscar em valores, prestações e prazos de financiamento inviáveis. Mas suas vantagens vão além.

 

É fato comprovado que o ano com maior desvalorização de um automóvel é o primeiro, que marca a diferença fundamental entre o zero-quilômetro – detentor de todos os benefícios já citados – e o usado, ainda que pouco usado. Para trabalharmos com os mesmos exemplos, o comprador do Onix perderia R$ 12 mil no primeiro ano (é o que vale seu modelo 2015 em relação ao novo), ante apenas R$ 3 mil do que optasse pelo Civic usado (diferença de valor entre um 2012 e um 2013). Ao escolher o Corolla o interessado veria R$ 17 mil dissiparem-se em um ano (cotação do 2015, já da nova geração, ante o preço do zero), enquanto a compra do A4 representaria perda de R$ 7.400 no período (diferença do 2014 para o 2015). A fonte de todos os valores mencionados é o Datafolha.

 

Com isso, quem prefere o usado sai com uma boa vantagem financeira que pode ser empregada na manutenção. É certo que peças novas duram mais que usadas e, portanto, o carro zero-quilômetro tende a demorar mais para dar despesas com pneus, freios, amortecedores, a troca de fluido da transmissão automática que o modelo mais antigo. Mas será que o comprador de um Civic 2013 gastaria no primeiro ano R$ 9 mil a mais que o dono de um Onix novo em manutenção, a ponto de equiparar a maior depreciação do Chevrolet?

 

Em relação a outros custos, o quadro muda pouco. O Imposto de Propriedade sobre Veículos Automotores (IPVA), calculado sobre o valor venal do carro, será semelhante entre um novo e um usado que valham o mesmo. Já o custo de seguro tende a ser menor no carro mais novo: quem mantém um automóvel por anos percebe que essa despesa cai pouco a cada ano, mesmo com o acúmulo de bônus, pois parte dos riscos envolvidos na cobertura (reparo de acidentes, por exemplo) não fica mais barata enquanto o veículo envelhece.

 

Afinal, carro novo mais simples ou usado superior, qual sua escolha? Para mim, dentro de determinado valor, o caminho seria verificar o quanto os automóveis zero-quilômetro disponíveis atendem a minhas necessidades. O citado Gol de R$ 35 mil sem ar-condicionado, por exemplo, não me serviria: nesse caso, melhor procurar um usado mais satisfatório. Por outro lado, há tantas opções no mercado que, mesmo com maior verba disponível (digamos, o dobro do Gol, R$ 70 mil), talvez eu me sentisse tentado a optar por um carro superior de segunda mão e desfrutar qualidades que esse valor não compraria em um novo. E você, o que faria? (Best Cars)