O Estado de S. Paulo
Uma greve que já dura 15 dias na empresa de revestimentos para tetos de veículos Intertrim, de Caçapava (SP), já paralisou, desde quartafeira, 25, cinco fábricas da Ford, General Motors e Toyota por falta do componente. Outras fabricantes devem ser prejudicadas na próxima semana, caso a paralisação persista.
O problema ocorre num momento em que a maioria das empresas está com a produção desacelerada em razão da queda nas vendas, mas também afeta marcas que operam a plena capacidade, como a Toyota.
A fabricante japonesa está com a produção do sedã Corolla parada em Indaiatuba (SP) desde quartafeira à tarde. A unidade que produz o compacto Etios em Sorocaba (SP) também suspendeu atividades na quintafeira e nesta sextafeira, 27. A empresa deixa de fabricar cerca de 620 automóveis por dia.
A Ford interrompeu na quintafeira e a produção do Fiesta em São Bernardo do Campo (SP) e vai repetir a medida nesta sextafeira. Já a General Motors parou na quintafeira a filial de Gravataí (RS), que segue sem operar nesta sextafeira, assim como a linha da picape S10, em São José dos Campos (SP). Ao todo, foram dispensados cerca de 11 mil trabalhadores.
Briga sindical
A Intertrim, do grupo espanhol Antolin, tem 700 funcionários e fornece para todas as montadoras, exceto a Fiat.
“Atendemos 60% do mercado brasileiro de revestimento para tetos”, diz o diretor de Recursos Humanos, Osvaldo Pires. Outra empresa do grupo, a Trintec, também produz peças automotivas com tecidos.
O julgamento da greve pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) está previsto para ocorrer no dia 9 e, até lá, a empresa não pretende negociar com as lideranças do movimento.
Pires afirma que há uma tentativa do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos de tomar a representatividade dos trabalhadores da fábrica das mãos do Sindicato dos Têxteis de Taubaté, que os representa desde o início das operações da empresa no País, em 1996.
“Já tínhamos fechado um acordo salarial com o Sindicato dos Têxteis, com reajuste de 10,33% e outros benefícios, mas o pessoal dos Metalúrgicos interferiu e passou a comandar a greve, com apoio de alguns poucos funcionários, fazendo barricadas na porta da fábrica e impedindo o pessoal de entrar, inclusive com violência”, diz Pires.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Antonio Ferreira Passos, diz que a empresa é uma autopeça, “e a prova disso é que está parando várias montadoras”. Segundo ele, os trabalhadores querem a mudança da representatividade porque os metalúrgicos têm melhores salários e mais benefício.
Para a presidente do Sindicato dos Têxteis, Iranilda Andrade da Silva, o que está ocorrendo é uma ilegalidade. “A representatividade dos trabalhadores é nossa e isso foi confirmado em audiência na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) na terçafeira”, diz. A empresa também obteve uma ordem de interdito, que proíbe os manifestantes de impedirem a entrada de trabalhadores, mas isso não está sendo cumprido.
“Não entendo porque a polícia não consegue tirar esse pessoal de lá, mesmo tendo essa ordem”, diz Iranilda. Segundo ela, o pessoal do sindicato opositor age com violência e os trabalhadores estão com medo. “A entrada da fábrica virou um cenário de guerra”.
Pires afirma que, até terçafeira, a produção operava com 30% de sua capacidade, mas nos últimos dias foi totalmente paralisada.
“Pedimos para os trabalhadores ficarem em casa por questão de segurança”. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)