Indústria de bens de capital opera no nível mais baixo desde 2006

O Estado de S. Paulo

 

A indústria de bens de capital está operando no nível mais baixo desde 2006. Entre janeiro e setembro, o nível da produção apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou em 79,2, uma queda de 23,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.

 

O setor é considerado o coração da indústria e um termômetro de como está o investimento do País. No melhor momento, o nível de produção chegou a 113,5 nos nove primeiros meses de 2013.

 

A forte redução na atividade de bens de capital pode ser explicada pela piora do quadro da economia brasileira – a recessão deste ano deverá ser a mais intensa desde 1990 – e, em especial, pela forte queda da confiança das empresas e das famílias, o que adia a realização dos investimentos e a demanda por máquinas e equipamentos. “A deterioração da atividade econômica ocorre como um todo. Setores demandantes (de bens de capital) como a indústria geral e a construção estão tendo resultados muito ruins”, afirma Felipe Beraldi, analista de bens de capital da Tendências Consultoria Integrada.

 

Outros números do setor também dão a dimensão da crise. Em setembro, a queda na carteira de pedidos foi de 24,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “A expectativa para este ano é péssima. O setor deve ter uma queda de 15% na produção comparada com o ano passado”, afirma Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq.

 

Crise sem fim

 

Para as empresas, a crise parece interminável. Na Omel Bombas e Compressores, 40 trabalhadores já foram demitidos este ano. Hoje, a empresa tem 140 funcionários. “Este ano e 2016 vão ser extremamente difíceis. Estamos vivendo praticamente o dia a dia. Não conseguimos fazer caixa nem podemos fazer planos de investimento de longo prazo”, diz Corrado Vallo, um dos sócios da empresa.

 

A falta de perspectiva dos empresários fica evidente pelo baixo nível de utilização da capacidade instalada. Os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o porcentual de utilização médio do setor de máquinas e equipamentos foi de 58% em outubro – o patamar mais baixo da série histórica iniciada em 2011.

 

“Como o empresário vai investir sabendo que a sua empresa tem excesso de capacidade para produzir ou o maquinário que ele tem dá e sobra para abastecer o mercado?”, pergunta Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. (O Estado de S. Paulo/Luiz Guilherme Gerbelli)