DCI
A indústria automotiva ainda enfrentará nos próximos anos estagnação das vendas e, com isso, a ociosidade ficará na casa dos 50% até 2020. Com o aumento expressivo da capacidade instalada das montadoras localmente, o cenário é de pessimismo para o setor.
De acordo com estudo da Tendências Consultoria, obtido em primeira mão pelo DCI, o ritmo de emplacamentos não deve mudar no curto e médio prazo e a utilização da capacidade interna deve ficar “muito ruim”. A consultoria trabalha com uma estimativa de capacidade de 4,8 milhões de unidades até 2020.
“O baixo nível de confiança das famílias continuará sendo o principal driver para as vendas em queda de veículos leves. A perspectiva é de paralisia total do mercado”, afirma o analista da Tendências, Rodrigo Baggi.
Segundo ele, a queda se mostra bastante disseminada em todas as regiões do País. “Ninguém ficou imune ao tombo da indústria”. O analista explica que as projeções de demanda eram muito favoráveis na última década e as montadoras acabaram avançando em projetos de novas fábricas ou expansão das linhas existentes.
Contudo, principalmente a partir de 2013, a deterioração da economia aumentou de maneira inesperada, segundo Baggi. “Uma série de equívocos da política econômica levaram a um aprofundamento da crise, que culminou no cenário atual”, pondera o analista.
Montadoras de luxo como Audi, Mercedes-Benz, BMW e Jaguar Land Rover decidiram investir na fabricação local logo após o anúncio do novo regime automotivo, que majorou em 30 pontos percentuais o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para importados.
A esse aumento de capacidade, se soma o investimento da FiatChrysler Automobiles (FCA) em uma nova fábrica em Goiana (PE). O grupo trabalha inclusive no aumento de capacidade da planta de Betim (MG).
Também investiram em fábricas no País as chinesas Chery e Jac Motors. Essa última, devido aos diversos problemas enfrentados durante o projeto, ainda não começou a operar.
“O desempenho do mercado automotivo foi excepcional até meados de 2011, quando muitas empresas decidiram investir na fabricação local. Mas depois a situação piorou de forma inesperada”, acrescenta Baggi.
Ele ressalta que a crise política também afeta sensivelmente o desempenho do setor. “O quadro político não tem precedentes e tem impactado diretamente a confiança das famílias”.
Baggi observa que a velocidade de crescimento do setor, verificada a partir de 2003, não deve mais voltar. “O cenário para o médio prazo é de recuperação moderada, com uma série de riscos pois o nível de incertezas é grande”, afirma. “Mas para o curto prazo a perspectiva é terrível”.
Ele acrescenta ainda que, a partir de 2020, o ritmo de crescimento continuará moderado. “Longe do observado no passado”, diz.
Desempenho regional
O estudo da Tendências mostra que, apesar da queda generalizada, o Norte e o Nordeste tiveram um desempenho melhor do que a média nacional.
Essas duas regiões ainda devem apresentar evolução relativamente mais favorável que a média brasileira devido a três fatores: renda, menor nível de endividamento e grande potencial de motorização.
Conforme o levantamento, o crescimento da massa total de renda no Norte e no Nordeste deverá ficar acima da média brasileira (cerca de 1 ponto percentual) a partir de 2017. Enquanto a média nacional de incremento da renda será de 2,4% ao ano de 2017 a 2020, a do Norte e Nordeste será de 3,7% e 3,4%, respectivamente.
Baggi destaca ainda que o menor endividamento das famílias e a baixa densidade por habitante serão drivers positivos para o desempenho acima da média nacional nas regiões Norte e Nordeste.
Já o Centro-Oeste deve mostrar trajetória mais de acordo com a média geral. O estudo leva em conta o menor potencial para o crédito na região e a evolução mais contida da renda (afetada pelos preços de commodities), além do mercado de leves relativamente maduro.
As regiões com menor potencial de crescimento são Sul e Sudeste, de acordo com estudo da Tendências. “Projetamos evolução da renda e crédito pior do que a média nacional. Além disso, essas regiões apresentam maior saturação do mercado”, pondera Baggi.
O analista salienta que o fator crédito, atualmente, não é o principal fator que baliza a demanda do setor. Segundo ele, os bancos privados continuam com o mesmo nível de seletividade dos últimos dois ou três anos e a inadimplência tem se mantido controlada.
“Os bancos continuam conservadores, mas conseguiram limpar suas carteiras”, considera. Baggi revela, contudo, que os consumidores estão se protegendo diante das incertezas em relação à renda e emprego. “O brasileiro não está em busca de crédito para compra de automóvel porque se trata de um bem de alto valor agregado. O consumidor vai postergar a aquisição desse bem”. (DCI/Juliana Estigarríbia)