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Depois da BMW (Séries 1 e 3 e X1), é a vez da também alemã Audi entregar modelos fabricados no Brasil. Apresentado esta semana, o A3 Sedan nacional começa a ser entregue primeiro na configuração com motor de 1,4 litro, retrabalhado para ser flex e entregar 150 cavalos de potência e 25,49 kgfm de torque. Com preços iniciais de R$ 99.990 e R$ 109.990, sai mais em conta que o hatch mais barato da rival bávara e reforça o posicionamento contra sedãs médios que entram em sua faixa de preço sem ter tanto refino ou equipamento – aqui falamos do Toyota Corolla Altis (R$ 100.990).
Com estas credenciais, a Audi do Brasil afirma, oficialmente, que pretende manter o bom nível de vendas de praticamente cinco mil unidades ao ano – há até a expectativa de entregar 1.000 unidades do sedã nacional em mês e meio, até o apagar das luzes de 2015. Nos bastidores, porém, vozes ligadas à empresa apontam que o A3 Sedan feito no Paraná pode vender bem mais e realmente mudar paradigmas do segmento médio premium. Para isso, é preciso agradar a todo tipo de consumidor (não apenas satisfazer a entusiastas de tecnologia e velocidade) e andar bem em todos os pisos do país.
Audi aposta tudo no motor
UOL Carros sabe que a pergunta que qualquer consumidor interessado se faz neste momento, antes de assinar o cheque, é “será que o A3 nacional piorou em relação ao sedã importado da Hungria desde 2014?” Vamos responder: houve simplificações, mas também ganhos. No resultado, o carro segue muito interessante.
De fato, a Audi só apresentou à imprensa especializada a versão mais completa (Ambiente) e com todos os equipamentos possíveis – um carro que encosta nos R$ 165 mil (quase R$ 55 mil só de itens opcionais), mas pode acelerar, frear e até movimentar o volante sozinho para manter o carro na faixa ou estacionar com destreza. Ainda assim, UOL Carros abriu mão de experimentar os itens de alta tecnologia e se ateve aos detalhes técnicos presentes até na versão de entrada (o teste completo dos opcionais será feito em breve).
Sob o capô está a maior evolução do carro nacional frente ao importado: a Audi aposta bastante na potência e força do motor 1.4 flex e ele realmente agrada. Em quase 100 quilômetros de teste, funcionou sempre com muita reserva, girando entre 1.500 e 2.500 giros, e ainda assim proporcionando saídas seguras (a Audi fala em 0-100 km/h feito em 8,8 s, meio segundo mais veloz que o 1.4 anterior) e mantendo fôlego para ultrapassagens e retomadas confiantes. De fato, é incrível realizar que um motor com a mesma capacidade do Chevrolet Agile, por exemplo, pode andar mais e com mais tranquilidade que aquele que empurrava o Vectra, só para citar modelos que o brasileiro conheceu bem.
É preciso observar que o carro importado tinha uma dinâmica mais arrojada por conta do câmbio automatizado de sete marchas (dupla embreagem). Já este é mais racional com seu automático de seis, Tiptronic. A ideia é ter um carro mais suave em saídas e menos arisco. De fato, a transmissão feita pela Aisin segura um pouco mais a saída do A3, impedindo que motoristas menos confiantes deem “soquinhos” ao modular o pedal com mais força do que deveriam. É uma forma de agradar a mais consumidores, porque motorista que se assusta com o carro não o compra – nem o recomenda.
Mais urbano
Este A3 também é menos arrojado em curvas, por conta da suspensão traseira feita com molas torcionais e amortecedores separados (eixo de torção com barra estabilizadora), em vez da solução multibraços do três-volumes importado. Obviamente é uma solução com custo menor, ainda que componentes sejam feitos de alumínio, assim como na suspensão dianteira. Por outro lado, é uma saída mais adequada se considerarmos que boa parte dos compradores não vão exigir esportividade de um carro que é pensado para o uso urbano e em viagens de finais de semana.
Além disso, este conjunto de suspensão está mais preparado para regiões com piso mal preservado: “Pense como o consumidor que precisa enfrentar valetas, lombadas e asfalto ruim aqui no Brasil, ele vai ter mais conforto na cabine e seu carro vai raspar menos”, explicou o engenheiro e consultor técnico da Audi, Lothar Werninghaus.
Como também está mais “altinho” (1,5 cm na dianteira, 1,4 cm na traseira), o A3 Sedan Flex passa mais tranquila mente por esses obstáculos, ainda que não faça curvas como um semideus com volantes e entregue um pouco a traseira (situação que é controlada por assistências de estabilidade e tração facilmente). “Vamos ter a versão 2.0, com o mesmo conjunto de suspensão do importado, para quem gosta de andar mais forte, inclusive nas curvas. Será outra proposta”, adianta o engenheiro.
Faltou dizer que a cabine segue com acabamento impecável e ótima escolha de materiais, à exceção dos novos bancos, mais compactos do que precisavam ser e que sustentam mal o corpo do motorista com mais de 1,80 m em longas viagens. De novo, foi uma escolha da Audi pensando em uso mais urbano e em dar mais espaço na cabine a mais pessoas (com altura menor), que reclamavam do aperto no carro como um todo. Sete airbags, computador de bordo completo e integração eletrônica total com aparelhos celulares e tocadores de MP3 mantém o nível Audi.
No fim, sempre há o fator psicológico (e mercadológico) do motor flex. Se o etanol estiver vantajoso, haverá uso e maior performance do motor; se estiver caro, haverá opção pela gasolina com maior autonomia (segundo o Inmetro, 7,8/11,7 km/l na cidade – etanol/gasolina -, 9,9/14,3 km/l na estrada). São bons argumentos para um carro que chega com a missão de mexer com o mercado, agradar a mais pessoas e tentar vender bastante. (UOL Carros/Eugênio Augusto Brito)