PSA mantém planos no País, apesar de crise

O Estado de S. Paulo

 

A nova linha de montagem que dobrou a capacidade produtiva da fábrica da PSA Peugeot Citröen em Porto Real (RJ), concluída no início do ano passado, praticamente ainda não foi utilizada. Está à espera da melhora do mercado para entrar em operação, em data ainda imprevista. O grupo, que já chegou a ter 5,5% de participação no mercado brasileiro, hoje detém menos da metade desse porcentual. Suas vendas neste ano caíram 40%, o dobro do mercado total, para 50,6 mil unidades.

 

Ainda assim, o presidente mundial da companhia francesa, Carlos Tavares, disse que o grupo “está na América Latina para ficar”. Segundo ele, a empresa não é oportunista e seguirá com seu projeto. “Vamos encarar a crise no Brasil”, afirmou o executivo ontem, após participar da cerimônia simbólica de início da produção em série de novo Citröen Aircross.

 

Ele afirmou que a empresa pretende focar investimentos futuros em plantas lucrativas, mas espera que isso ocorra na América Latina, e em especial no Brasil, até 2017. “O grupo como um todo esteve perto da falência em 2012; conseguimos reverter a situação e voltamos ao jogo”, lembrou ele, referindo-se ao plano de recuperação criado por ele e batizado de “Back in the race”. “Sempre há uma solução para qualquer problema”, disse o executivo português que assumiu o comando da PSA no fim de 2013.

 

Naquele período, a companhia fechou diversas fábricas na Europa e demitiu milhares de trabalhadores. O resultado do plano, que consistiu, entre outras ações, em reduzir custos e tirar de linha veículos que não dão retorno financeiro satisfatório, apareceu nos resultados da companhia do primeiro semestre deste ano.

 

“Obtivemos uma rentabilidade de 5% sobre o faturamento”, afirmou Tavares. Na América Latina, o resultado foi “positivo, embora ainda pequeno”. A participação da filial brasileira provavelmente foi apenas em corte de gastos. O Brasil já respondeu por 60% a 70% das vendas na região há cinco anos, mas hoje a fatia está abaixo de 50%.

 

Apolítica adotada globalmente para a recuperação econômica do grupo ainda está sendo aplicada na região. Nos últimos dois anos, vários modelos que não davam retorno foram cortados, entre os quais o Peugeot 207 e a picape Hogar, feitos no Brasil, e o Citröen C4 hatch, fabricado na Argentina.

 

“Essa política pode ter impacto em participação no mercado, mas essa questão já não é essencial”, afirmou Tavares. “Sem rentabilidade, é uma participação tóxica”, acrescentou, afirmando que a empresa não pretende “doar carros” ao mercado só para conseguir pontos no ranking de vendas.

 

Vender apenas modelos de maior valor (acima de R$ 40 mil) e reduzir descontos também faz parte da atual estratégia. Só com logística, a fábrica carioca conseguiu redução de custos de € 5 milhões (cerca de R$ 20 milhões) nos últimos dois anos. Ampliar a nacionalização dos modelos feitos no País de cerca de 70% para 85% até 2018 é outra meta, que vai consumir € 50 milhões no Brasil (cerca de R$ 200 milhões) e € 20 milhões na Argentina, onde o grupo também tem fábrica.

 

Ociosidade

 

A ociosidade na fábrica carioca pesa nos resultados da companhia. A ampliação da linha de montagem, concluída no início de 2014, permite à empresa produzir até 220 mil veículos por ano em três turnos e 150 mil em dois turnos. Desde o ano passado a unidade opera com duas equipes e fará no máximo 70 mil carros este ano, ante 90,5 mil em 2014.

 

“Quando decidimos esse investimento (que consumiu parte dos R$ 3,7 bilhões programados para 2011 a 2015) havia expectativa de que o mercado brasileiro consumiria 4 milhões de veículos neste ano e 5 milhões até 2020”, diz o presidente da PSA Peugeot Citröen Brasil e América Latina, Carlos Gomes. “Hoje, claro que não faríamos isso”.

 

Grupo investiu R$150 milhões em novo modelo

 

Só para o desenvolvimento e produção do novo Citröen Aircross, a PSA investiu RS 150 milhões. No início do ano, a empresa já havia anunciado RS 400 milhões para a produção do Peugeot 2008.

 

O Aircross é um utilitário-esportivo pequeno que deve disputar mercado principalmente com versões do Ford EcoSport e do Renault Duster, na faixa de preço de RS 60 mil.

 

Também estão nesse segmento, mas com preços mais elevados, o Jeep Renegade e o Honda HR-V.

 

O grupo também produz os modelos Peugeot 208 e Citröen C3. O C3 Picasso sairá de linha com a chegada do novo Aircross.

 

A fábrica emprega atualmente cerca de 3,1 mil funcionários, incluindo pessoal administrativo.

 

No ano passado, 600 trabalhadores entraram num programa de demissão voluntária (PDV) após ficarem em lay-off (contratos suspensos) por seis meses.

 

O novo carro, que conta com mudanças mais significativas no painel interno e no design em relação ao anterior, começará a ser vendido no País em dezembro e depois será exportado para países da América Latina, principalmente Argentina.

 

“O novo Citröen Aircross traz novas tecnologias, mais segurança embarcada e foi feito sob medida para o consumidor da América Latina”, afirmou o presidente da PSA Peugeot Citröen Brasil e América Latina, Carlos Gomes.

 

Também esteve presente ontem na solenidade para marcar o início da produção em série do utilitário-esportivo o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)