O Estado de S. Paulo
Outubro costuma ser um mês importante para a comercialização de veículos novos. Em 2014, foi o segundo melhor em vendas, abaixo apenas de dezembro; em 2012 e em 2013, ficou em quarto lugar. Mas outubro de 2015 foi ruim: as vendas de 162,1 mil veículos nacionais foram 4% menores que as de setembro e só superaram as de fevereiro, sazonalmente o mês mais fraco do ano. A produção de veículos, de 205 mil unidades, subiu 17,4% em relação a setembro, mas foi 30,1% inferior à de outubro de 2014.
Se há uma exceção é o mercado de automóveis usados e seminovos, com pequeno aumento em relação a 2014, mas que também enfraqueceu muito no mês passado. Por ora, é esse mercado que reduz o temor de derrocada do setor, com operações que asseguram a sobrevivência das revendas, que não dispõem da capacidade financeira das montadoras.
Alguns nichos, como o de veículos luxuosos, ainda se preservam, mas neste caso as vendas anuais são inferiores a 100 mil unidades, num mercado de 2,8 milhões de veículos. Muito pouco, portanto.
Entre os primeiros dez meses de 2014 e de 2015, a produção de 2,11 milhões de unidades caiu 21,1%, mas ainda assim o estoque correspondia a 53 dias de vendas, segundo a associação das montadoras (Anfavea).
As exportações de US$ 8,82 bilhões até outubro foram 10,5% inferiores às de igual período de 2014. Mesmo crescendo no último bimestre, não sustentam a atividade, ao alcançar 400 mil unidades/ano.
Ainda mais fraca é a venda de caminhões (52,8% entre outubro de 2014 e outubro de 2015) e de ônibus (69,3%, no mesmo período de comparação). Até as vendas internas no atacado de máquinas agrícolas e rodoviárias indicaram queda de 31,4% entre 2014 e 2015, apesar do vigor do agronegócio.
O enfraquecimento do setor automobilístico se reflete sobre vasta cadeia produtiva, sobre a arrecadação tributária federal, estadual e municipal e, em especial, sobre a força de trabalho. Em dois anos (de outubro de 2013 a outubro de 2014), 26,9 mil postos foram cortados nas montadoras, dos quais 14,3 mil nos últimos 12 meses e 867 no mês passado.
Não há perspectivas de retomada no curto ou no médio prazos. Crédito escasso e caro afasta consumidores temerosos quanto ao emprego e à renda, enquanto a inflação esbarra nos 10% ao ano. Com esse desempenho, o setor automotivo teve papel decisivo na queda da produção industrial de 10,9% entre os meses de setembro de 2014 e de 2015. (O Estado de S. Paulo)