Foton negocia compra da operação da International no Rio Grande do Sul

DCI

 

A Foton Aumark está se reorganizando para cumprir o cronograma previsto para suas operações no Brasil. Em meio à decisão de terceirizar a produção enquanto a fábrica não fica pronta, a montadora negocia a compra da planta da International no País.

 

“Estamos negociando com a International para usar a sua linha de produção ou até para comprá-la”, afirmou em entrevista ao DCI o CEO da Foton, Bernardo Hamacek.

 

A International pode encerrar as suas operações no Brasil. Procurada, a empresa não atendeu à reportagem. O fato ocorre em meio às negociações da Foton para terceirizar a sua produção enquanto a fábrica não fica pronta.

 

Segundo a marca chinesa, um atraso na liberação do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção da fábrica adiou o início das operações, que estava previsto para janeiro do ano que vem.

 

Com isso, a companhia decidiu terceirizar a produção para não perder o incentivo do Inovar-Auto, o que segundo a empresa é um mecanismo previsto pelo regime.

 

“Estamos negociando com a Agrale e com a International”, confirma o presidente da Foton, Luiz Carlos Mendonça de Barros. Ele garante que a produção terá início em meados de maio de 2016 e, em dezembro, a fábrica da marca em Guaíba (RS) deve começar a operar.

 

Mendonça de Barros conta que, desde a decisão de trazer a marca ao Brasil, em meados de 2010, muita coisa mudou, incluindo a taxa de câmbio até regras do novo regime automotivo. “Falei aos executivos da Foton que eles precisavam se acostumar com as mudanças constantes das regras do jogo no Brasil”, acrescenta Mendonça de Barros.

 

Atualmente, com 30 concessionárias no País, a Foton quer 10% de participação no mercado de leves (incluindo caminhões de 2,8 toneladas), que concentra grande parte das vendas no País.

 

“Em momentos de crise, uns sofrem mais do que outros. Mas estamos confiantes que o mercado vai voltar a crescer”, avalia o executivo.

 

Para Hamacek, o segmento de leves sofre menos, sustentado por comércio e serviços. “Em grandes centros urbanos, a legislação exige os caminhões do tipo VUC (Veículo Urbano de Carga), o que impediu uma queda ainda maior de leves”, pontua o CEO da Foton.

 

Ele revela ainda que o modelo de 10 toneladas terá início de produção com 65% de nacionalização. “O veículo já nascerá ‘finamizado'”, diz o executivo, referindo-se à exigência de conteúdo local mínimo para utilização do financiamento do BNDES para a compra de bens de capital, o Finame.

 

Hamacek salienta que, apesar de não ser vendido com Finame, o modelo de 3,5 toneladas também terá conteúdo local de 60%. “Faz parte da nossa estratégia até para depender menos das intempéries do câmbio”, explica.

 

A fábrica da Foton terá capacidade instalada de 28 mil unidades anuais em um turno de produção, mas segundo Hamacek, ainda pode ser expandida. “Devido ao enorme terreno e às condições em que a planta foi planejada, podemos expandi-la de acordo com a demanda”, revela Hamacek.

 

Mendonça de Barros ressalta, no entanto, que por ora a Foton opera com prejuízo. “Grande parte dos nossos investimentos, além da nacionalização, tem ido para a rede de dealers e também para fornecedores”, pondera.

 

Queda em caminhões

 

Segundo dados divulgados na sexta-feira (06) pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o mercado de caminhões acumula queda muito acima do setor como um todo.

 

“O segmento passa por uma situação dramática”, afirma o dirigente da Anfavea para caminhões, Luiz Carlos Moraes.

 

A entidade informa que a redução do volume de recursos disponíveis ao Finame e do prazo para aderir ao financiamento, medida anunciada há alguns dias, pegou o setor de surpresa. “Fomos negativamente surpreendidos com o anúncio”, declarou o presidente da Anfavea, Luiz Moan.

 

Com isso, o corte que estava previsto somente para novembro acabou antecipado. “Isso tira toda a previsibilidade dos clientes”, afirma o vice-presidente secretário da Anfavea, Marco Antonio Saltini.

 

Segundo ele, diante do atual cenário, as empresas que planejavam investir estão refazendo o planejamento. “As companhias estão botando o pé no freio”, acrescenta. Saltini acredita que a mudança brusca no Finame impactará ainda mais o segmento. “Realmente estamos falando de uma situação dramática”, diz.

 

Hoje, começa a maior feira de transportes da América Latina, a Fenatran, que teve adesão de apenas duas montadoras, a DAF e a Volvo. Segundo as empresas, historicamente o evento se mostrou muito importante para impulsionar as vendas do ano.

 

Contudo, as marcas decidiram cortar o pesado investimento na feira. É o caso da Mercedes-Benz, que realizou um evento interno e afirma ter investido menos da metade do que aportaria na Fenatran.

 

Segundo a Anfavea, até outubro a indústria de caminhões apresentou queda das vendas de 44,9%, o pior desempenho desde 1999. “Continuamos em uma situação bastante complicada”, diz Moan.

 

O desempenho de automóveis e comerciais leves também foi ruim. Na mesma base de comparação, as vendas só não foram inferiores a 2007. “O cenário para o setor está cada vez mais contaminado pela crise política”, acredita Moan.

 

Segundo ele, a média diária de vendas atual, um pouco acima de 9 mil unidades, deve se manter para os próximos trimestres. “Esperamos ao menos uma estabilidade para 2016”.

 

Ainda de acordo com a Anfavea, somente as exportações têm apresentado alento. No acumulado do ano, as vendas ao exterior cresceram 16,9%. (DCI/Juliana Estigarríbia)