Reuters
As montadoras de veículos poderão ampliar o ajuste de produção e acelerar o corte de vagas no Brasil, depois que o governo federal reduziu o limite para operações do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e antecipou o prazo para pedido de financiamento, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Moan, nesta sexta-feira.
O governo federal reduziu no fim de outubro em 30,5 bilhões de reais para 19,5 bilhões de reais o limite de operações do PSI, o principal mecanismo de financiamento de caminhões e ônibus do país, afirmando que a medida não traria impacto diante da demanda fraca pelos recursos até o final de setembro, de 6,8 bilhões de reais.
Moan afirmou que o setor automotivo foi “negativamente surpreendido” pela antecipação do prazo para as requisições de financiamento.
“Com o encurtamento do tempo, houve uma corrida forte pelo financiamento, o que tira a previsibilidade do setor e perturba o planejamento das empresas”, disse o presidente da entidade que representa o setor.
Moan citou como exemplo montadoras que estavam planejando ajustar a produção com uma redução de 20% na jornada de trabalho neste final do ano e que podem ampliar o ajuste a partir da mudança no PSI.
Ele comentou que trabalhadores que não estão envolvidos por acordos já acertados do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) podem acabar sendo demitidos, dada a demora em uma eventual renegociação de ampliação da proteção com sindicatos e autoridades.
Segundo Moan, atualmente a indústria de veículos do Brasil tem 34% de sua força de trabalho sujeita a algum tipo de restrição. Ele disse que são 35,6 mil trabalhadores sob o PPE, 2,8 mil em férias coletivas e 6,6 mil com contratos de trabalho suspensos (lay-off).
A indústria de veículos do Brasil acumula queda de 21,1% na produção de janeiro a outubro sobre o mesmo período do ano passado, enquanto as vendas têm queda de 24,3%, informou a Anfavea nesta sexta-feira. Considerando apenas caminhões, a queda acumulada na produção chega a 47%, enquanto as vendas recuaram 45%.
O setor fechou outubro com 132,7 mil postos de trabalho ocupados, queda de 9,7% ante outubro de 2014, estendendo a tendência de diminuição iniciada em novembro de 2013.
Segundo Moan, a expectativa é que a indústria de veículos apresente algum tipo de melhora nas vendas a partir apenas do final do terceiro trimestre de 2016, diante da previsão de queda menos intensa da economia no próximo ano ante os 3,05% de retração esperada por economistas para 2015.
Perguntado até quando o setor pode evitar anúncios de demissões em massa, Moan comentou apenas que a criação do PPE neste ano foi feita para minimizar o efeito da queda da produção.
Na semana passada, a Honda, uma das poucas montadoras que atendem o mercado de massa a apresentar crescimento de vendas no acumulado deste ano até outubro, suspendeu o início de produção da fábrica que acabou de construir no interior de São Paulo. O investimento de 1 bilhão de reais ficará parado por tempo indeterminado.
Moan, que também é executivo da General Motors, afirmou que a decisão da montadora japonesa foi “extremamente responsável” e “inédita na indústria” ao não ter elevado a capacidade de produção agora e arriscar empregos de sua outra fábrica no país. (Reuters)