O Estado de S. Paulo
A produção de veículos registrou o pior desempenho para o mês de outubro em dez anos, com 205 mil unidades, 30% inferior ao de igual mês de 2014. No ano, o setor acumula redução de 21% no número de veículos que deixaram a linha de montagem, com 2,11 milhões de unidades, ou 566,2 mil a menos ante o período anterior.
Com esse fraco desempenho, as montadoras têm atualmente 45 mil funcionários com alguma restrição de atividade, o equivalente a 34% de sua mão de obra. Desse grupo, 2,8 mil estão em férias coletivas, 6,6 mil em layoff (contratos suspensos) e 35,6 mil estão inscritos no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), com jornada e salários reduzidos. Além disso, o setor demitiu 11,8 mil funcionários neste ano, dos quais 900 no mês passado, e emprega 132,7 mil pessoas, o menor contingente desde julho de 2010.
Anúncios de corte de produção continuam ocorrendo. A Ford informou que vai suspender atividades na fábrica de carros de São Bernardo do Campo (SP) de segundafeira até o dia 19. A unidade de caminhões ficará parada até o dia 27. Os 2,8 mil trabalhadores compensarão as folgas futuramente. Em Camaçari (BA), o trabalho será suspenso em todas as sextasfeiras deste mês. Na sequência, ainda haverá férias coletivas de final de ano.
A Volkswagen dará férias coletivas em São José dos Pinhais (PR) a partir de segundafeira. Os 2 mil trabalhadores do turno da manhã ficarão 10 dias em casa e os 800 da tarde, 20 dias. A justificativa das empresas é adequar os estoques à demanda.
Neste ano, enquanto as vendas caíram 24,3% em comparação a 2014, para 2,146 milhões de unidades, os estoques aumentaram 26%.
Fábricas e revendas têm 340,6 mil veículos parados nos pátios, o equivalente a 53 dias de vendas, igual ao registrado em setembro.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, disse que “o mercado automotivo reflete o estado de espírito da economia brasileira, bastante contaminado pela crise política”. Ele defende que os políticos “pensem mais no Brasil” e busquem uma solução rápida para o ajuste fiscal, “para pensarmos em como trabalhar para uma retomada da economia”.
A alta da produção verificada em outubro ante o mês anterior, de 17,4%, é resultado de mais dias de paralisação de produção em setembro, disse Moan. O único dado positivo do setor é o de exportações, com alta de 17% ante 2014, para 333 mil unidades. Em valores, há queda de 10,5% (US$ 8,8 bilhões).
Caminhões
O segmento de caminhões segue ainda mais afetado pela crise, com queda de 47% na produção do ano (66,1 mil unidades) e de 45% nas vendas (61,3 mil). “Continuamos passando por momento dramático, com falta de confiança dos investidores, juros altos e dificuldade de financiamento”, disse o vicepresidente da Anfavea, Luiz Carlos de Moraes.
Segundo ele, as alterações no Programa de Sustentação do Investimento (PSI) devem prejudicar ainda mais o setor e causar novas demissões. O limite para operações foi reduzido e o prazo para o fim dos pedidos de financiamento foi antecipado de novembro para outubro. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)