The Wall Street Journal
As ações da Volkswagen AG perderam valor ontem com informações de que o escândalo dos testes de emissões pode afetar cerca de 800 mil carros a mais do que o anunciado anteriormente, a um custo adicional ao redor de € 2 bilhões e depois que a empresa afirmou que irá interromper as vendas de alguns modelos nos Estados Unidos.
A maior montadora da Europa informou que subestimou o nível das emissões de dióxido de carbono e o uso de combustível desses veículos aos reguladores. Alguns dos carros eram movidos a gasolina, informou a Volkswagen, levando as infrações pela primeira vez para além da frota a diesel do grupo.
O ministro alemão dos Transportes, Alexander Dobrindt, disse ontem que a Volkswagen alertou o ministério que o software nos carros manipulava as emissões de dióxido de carbono. Dos veículos afetados, cerca de 98 mil são movidos a gasolina, disse Dobrindt. A Volkswagen não havia informado anteriormente quantos veículos eram movidos a gasolina ou a diesel. Um portavoz da Volks disse que ele não podia confirmar os comentários de Dobrindt sobre o software.
As ações da montadora caíram ontem 2,45% Frankfurt, cotadas a € 117,55. As ações da Porsche Automobil Holding SE, acionista controladora da Volkswagen, caíram 4,3%, para € 40,30.
A agência de classificação de risco Moody’s Investors Service rebaixou parte da dívida corporativa da multinacional germânica, citando “aumento dos riscos à reputação da Volkswagen e aos futuros lucros” após as novas revelações da ampliação da crise da fraude das emissões.
A Alemanha planeja testar todos os carros da Volkswagen para verificar a eficiência de combustível, emissões de dióxido de carbono e de óxido de nitrogênio, disse também o ministro, depois que a companhia admitiu que alguns veículos testados levantaram dúvidas sobre queixas antigas de quilometragem.
Nos Estados Unidos, a Volkswagen informou ontem que iria interromper as vendas dos modelos mais novos de veículos com motores a diesel 3.0, enquanto analisa dados dos novos testes realizados.
A interrupção das vendas inclui carros da Volkswagen e da Audi fabricados entre 2013 e 2016, bem como utilitários Porsche Cayenne produzidos entre 2014 e 2016. No início da semana, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, da sigla em inglês) equivalente ao Ibama no Brasil informou que identificou a presença de software ilegal em alguns desses veículos, o que permitiu que testes de emissões fossem fraudados.
Separadamente, a empresa ordenou o recall de outros carros nos Estados Unidos para consertar o eixo de comando de válvulas, que pode se romper, reduzindo a força do motor e dos freios.
Os 91.867 modelos afetados incluem Jetta, Passat, Beetle, Beetle conversível, Golf/GTI e o Golf Sportwagen. No total, a empresa vendeu até o fim de outubro cerca de 294.600 veículos nos EUA este ano, incluindo cerca de 31 mil utilitários esportivos.
A Volkswagen revelou a mais recente falha nas emissões na terçafeira, depois de realizar seus próprios testes. Em setembro, ela admitiu que até 11 milhões de veículos movidos a diesel em todo o mundo produzidos entre 2009 e 2015 poderiam ter os dispositivos de manipulação que reduziram as emissões de óxidos de nitrogênio no escapamento durante os testes de laboratório.
Autoridades americanas e europeias estão realizando investigações regulatórias e criminais. O anúncio de terçafeira é o primeiro a envolver os gases de efeito estufa, que têm sido o foco das autoridades europeias e americanas nos últimos dez anos.
Desde as primeiras revelações em setembro, a Volkswagen mudou seu alto escalão administrativo e suspendeu executivos seniores responsáveis pelo desenvolvimento dos motores. A nova equipe está examinando minuciosamente a frota inteira de carros da empresa.
O conselho supervisor da empresa sediado na Alemanha, informou que está “profundamente preocupado” com a revelação de que a Volkswagen divulgou dados errados das emissões de dióxido de carbono além de fraudar os testes de óxido de nitrogênio. O conselho afirmou que pretende se reunir em breve “para discutir outras medidas e consequências”.
“Desde o início, eu garanti que nós não teríamos piedade e esclareceríamos a situação completamente”, disse o diretorpresidente da Volkswagen, Mathias Müller. “É um processo doloroso, mas não há alternativa”.
A Volkswagen não deu detalhes sobre quais veículos ou motores foram afetados pelos níveis alterados de gases de efeito estufa. Analistas do setor disseram que os carros vendidos na Europa devem ser os mais afetados.
Ao fornecer uma estimativa do risco financeiro de sua nova revelação € 2 bilhões, ou US$ 2,19 bilhões , a Volkswagen não informou como chegou a esse número. Na semana passada, ela registrou uma baixa contábil de € 6,7 bilhões nos lucros devido aos custos para fazer os ajustes nos veículos a diesel afetados pelo software que pode reduzir as emissões durante os testes.
“A Volkswagen está nos deixando sem palavras”, disse Arndt Ellinghorst, analista automotivo da Evercore ISI, um grupo de pesquisa. A divulgação de terçafeira aconteceu um dia depois de a EPA ter apresentado novas alegações. A agência informou que encontrou dispositivos defeituosos nos motores a diesel 3.0 usados em grandes veículos utilitários da Volkswagem como os SUVs Touraeg, Porsche Cayenne, Audi Q5 e Q7, além dos sedãs Audi A6 e A8.
A agência informou que os veículos que testou tinham emissões de óxido de nitrogênio até nove vezes mais altas que o padrão permitido. A Volkswagen contestou as alegações da EPA, afirmando que não instalou nenhum software fraudador de emissões em motores usados nesses veículos.
As alegações de segundafeira feitas pela EPA atingiram pela primeira vez a Porsche, marca esportiva da Volkswagen grande geradora de lucros. Müller anteriormente dirigia a Porsche e as últimas informações levantaram dúvidas sobre o que deve ter acontecido com os motores da Porsche.
Alguns investidores na Europa venderam ações da Volkswagen receosos quanto ao impacto que as novas acusações da EPA poderiam ter sobre Müller um mês depois de ele ter assumido o comando da empresa no lugar de Martin Winterkorn. Alguns analistas já se perguntam se, diante da pior crise da história da Volkswagen, criada há 78 anos, alguém de dentro da empresa é a melhor pessoa para dirigila. (The Wall Street Journal/Willian Boston, Mike Spector e Friedrich Geiger)